Incrustrada no interior de Goiás, na cidade de Alexânia, a Fazenda Mutum é pura tradição. Afinal, essa história teve início na década de 1970, quando foi adquirida pela família Ferreira e iniciou suas atividades com gado leiteiro. Faz quase 50 anos que a família Ferreira trabalha, com visível paixão, na produção de vacas de excelência, o mais puro Gir leiteiro, com mais de 4600 animais registrados.
Foi em 1998 que a criação do Gir Leiteiro PO foi iniciada na Fazenda Mutum, logo após a compra do plantel remanescente da 3R de Uberaba, em Minas Gerais. De lá pra cá foi só inovação. No ano de 2000, o primeiro produto de transferência de embriões (TE) ganhou vida, a Dengosa TE Mutum que, quatro anos depois, carregava a medalha de Grande Campeã Nacional, dando início à jornada de outras grandes campeãs.
Esse rebanho estrelado conta com alguns números e dados impressionantes, como ser a primeira fazenda a ultrapassar os 50kg de leite e ter inúmeras recordistas mundiais de produção em torneio leiteiro. Dois recordes atuais mundiais são da Mutum, o de fêmea jovem, com a vaca Mizza, e o de vaca jovem, com a Broinha. Estes se somam aos vários troféus que, mais que decorar a sala reservada a eles, contam a história da família, que se confunde com a da fazenda. “Na fazenda, temos um barracão, com 20 baias de 25m2 cada uma, onde a gente prepara os animais para pista, exposição, leilão, torneiro leiteiro”, conta Leo.
A filosofia que une as gerações da família é a de que “somos o que repetidamente fazemos”. É por isso que, nos chapadões goianos, onde a fazenda se encontra, ser excelente é um hábito incrustrado no DNA da Mutum e traduzido nos anos dedicados às pesquisas, nas quais se desenvolvem novas linhagens de Gir leiteiro e Girolando.
Leo e o filho Bruno conduzem o Melhoramento Genético, contando com vários parceiros. “Somos focados em genética. Usamos a fertilização in vitro (FIV), os animais são genotipados e procuramos trabalhar com touros, realmente, superiores. Procuramos utilizar as ferramentas mais tecnológicas e atuais para os acasalamentos, feitos por mim e pelo Bruno, e utilizamos alguns softwares de empresas parceiras”, explica Leo. Toda essa dedicação com o processo, faz com que o comércio de genética ultrapasse as fronteiras do Brasil, com parceiros comerciais de embriões e animais vivos na Colômbia, Venezuela, México, dentre outros países.
Em termos administrativos, faz pouco tempo que havia três gerações no processo. Com a partida do Sr. Leonídio, o patriarca da família, Leo e os filhos, Bruno e Ana Luiza, se dedicam, de forma exclusiva, à administração do negócio.
RESULTADOS DE EXCELÊNCIA
Todos os setores da fazenda trabalham em consonância com a excelência atestada. Exemplo disso são os bezerreiros. Organizados em estrutura mista, as instalações do sistema tropical têm capacidade para abrigar 114 aninais até os 30 dias de vida e o sistema coletivo, com capacidade de 150 animais, onde ficam até 15 dias após a desmama. Quando seguem para o coletivo, ficam alojadas em 10 piquetes com 15 bezerras em cada um.
Os protocolos são rigorosos e bem definidos. Quando a bezerra nasce, seu umbigo é curado, recebe o colostro e é identificada, o mais rápido possível. Na primeira mamada, toma o equivalente a 10% do seu peso de colostro, via mamadeira. Em caso de recusa, usa-se a sonda.
O aleitamento é feito com leite. São fornecidos 6 litros por dia, divididos em duas refeições, até 60 dias. Dos 60 dias até os 80 dias, quando acontece o desmame, são fornecidos 3 litros de leite por dia, em uma única refeição.
A meta é dobrar o peso a partir dos 60 dias. “Essa meta é facilmente alcançada”, comenta Leo Ferreira. “Até os 80 dias, os animais atingem o mínimo de 100 kg, quando são desmamados. As bezerras Gir ficam um pouco mais, até atingirem 130 kg”, acrescenta Leo.
Os animais recebem ração concentrada até os 60 dias de idade, a vontade. Após os 60 dias, acrescentasse silagem. Depois de desmamados, permanecem nas instalações por 10 a 15 dias, e seguem para piquetes menores até completarem um ano. Depois, seguem para um maior, que abriga 50 animais, até entrarem na fase de reprodução.
TODA ESSA DEDICAÇÃO COM O PROCESSO FAZ COM QUE O COMÉRCIO DE GENÉTICA ULTRAPASSE AS FRONTEIRAS DO BRASIL, COM PARCEIROS COMERCIAIS DE EMBRIÕES E ANIMAIS VIVOS NA COLÔMBIA, VENEZUELA, MÉXICO, DENTRE OUTROS PAÍSES
EXPERTISE NA REPRODUÇÃO QUE SE REFLETE…
“As novilhas da raça Girolando entram em puberdade a partir dos 15 meses”, explica Leo Ferreira. Após essa idade, ao entrarem na fase reprodutiva, são protocoladas e recebem embrião, a cada 21 dias. “Os animais que não emprenharem, após 3 tentativas, são inseminados. Nas vacas em lactação, utiliza-se a técnica de inseminação diariamente e, a cada 21 dias, a transferência de embrião”.
A semana se inicia com o protocolo de exame reprodutivo nos animais que estão com 31 dias de inseminação. Nas vacas que não estiverem prenhes é feito o protocolo de IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) no mesmo dia e, com 10 dias, repete-se a inseminação. “A gente pega muito firme nessa parte de reprodução e, com isso, estamos conseguindo ter, no gado de leite, cerca de 80% de nascimentos de fêmeas e 20% de machos. A FIV ajuda muito nisso”, destaca Leo.
… NA PRODUÇÃO DE LEITE
A maior parte do rebanho, com exceção de dois lotes de Gir Leiteiro, é mantida em Compost Barn, com capacidade para 462 animais. O sistema é dividido em 6 lotes – quatro de vacas em produção, um de pré-parto e um lote “hospital”. De acordo com Leo, “o sistema é prático, fácil de mexer e podemos aumentar ou diminuir os lotes lá dentro”.
É na sala de ordenha que toda a dedicação da família no melhoramento genético, na nutrição e no manejo dos animais é atestada. “A ordenha é feita três vezes ao dia, no gado de alta e, quando eles estão abaixo de 25kg/leite/dia, a gente passa para duas ordenhas para ajudar no manejo. A nossa experiência mostra que, nesse caso, o DEL é mais alto, é um gado que não responde em termos de aumento de leite, depois de 150 dias de DEL. Via de regra, 170 a 180 dias de DEL elas vão para duas ordenhas”, detalha Leo. “A ordenha é feito num duplo 16. Há uma sala de espera e uma de pré-espera. Em uma cabem 110 e na outra cabem 60 animais. Dessa forma, a gente consegue rodar os animais facilmente”, explica Leo.
Um laboratório está instalado dentro da fazenda para fazer cultura microbiológica. Nos animais que apresentarem mastite clínica se faz a cultura, e o resultado sai entre 16 e 24h. Leo comenta que, depois da atuação mais rápida via laboratório, a utilização de antibióticos na fazenda foi reduzida em 40%. “Atuamos com medicamentos a partir dos resultados laboratoriais e do histórico do animal. Fazemos isso pensando na parte financeira, mas sobretudo, pelo ser humano. Somos muito assertivos”.
Todos dejetos sólidos são aproveitados na agricultura e a parte líquida vai pra fertirrigação. “Aqui na fazenda se aproveita tudo que tem que aproveitar! Só o berro da vaca que não!”, se diverte Leo.