Hiperqueratose x Perdas na produtividade

A lesão nos tetos da vaca possui até quatro estágios; as causas envolvem maquinário desregulado e aumento da mastite, que comprometerão a produção de leite.

A hiperqueratose da ponta de teto das vacas leiteiras é o espessamento da pele que forma o canal do teto e circunda o exterior do orifício, num crescimento exagerado da creatina. Segundo especialistas em sanidade bovina, é uma resposta fisiológica às forças aplicadas à pele do teto durante a ordenha, tanto pela teteira do equipamento, pela maior pressão na ordenha manual, ou por um bezerro com mamadas vigorosas.

A condição dos tetos com hiperqueratose é descrita de várias maneiras como anel, flor, erosão, formação de calo, calosidade ou aspereza da ponta do teto. “Quando a hiperqueratose leva ao fechamento incompleto da porção externa do canal do teto, deixa ‘a porta aberta’ para a invasão do úbere por patógenos que podem causar mastite clínica e subclínica. As lesões na ponta do teto podem aumentar a ocorrência da mastite no rebanho em até sete vezes. Sabemos que a mastite tem impacto tanto na produção de leite da matriz como na qualidade do leite produzido”, diz a médica veterinária e diretora executiva do Ideagri, Heloise Duarte.

Em relação à percepção dos produtores/ clientes do Ideagri quanto a este problema, a executiva afirma que a preocupação existe nas propriedades leiteiras atendidas. Esta ocorre, especialmente, em fazendas com controles mais completos, pois é feita a avaliação dos tetos, que é lançada no programa de gestão do rebanho, no item acompanhamento da evolução das lesões.

CONDIÇÕES DE FORMAÇÃO DA HIPERQUERATOSE E COMO EVITÁ-LA

Heloise observa que a hiperqueratose da ponta do teto está relacionada às condições de ordenha aplicadas ao teto e ao período de tempo em que as teteiras ficam acopladas, podendo se desenvolver em longo prazo (2 a 8 semanas). Ela destaca alguns pontos que merecem a atenção do produtor:

• Durante a ordenha, a ponta do teto é comprimida pela pressão exercida pela teteira fechada. Essa pressão local resulta do uso da teteira montada sob tensão e forçada a envolver a ponta do teto.

• A aspereza da ponta do teto é causada pela pressão da teteira incomumente alta, gerada, por exemplo, por alto vácuo ou alta tensão da teteira, ou por aplicação durante um tempo longo e com grande pressão (associada com sobreordenha, por exemplo). Uma causa muito comum da hiperqueratose é a teteira acoplada ao teto do animal após o término de fluxo do leite. Com isso, o equipamento continua exercendo pressão sobre o teto, sem que haja fluxo e retirada de leite.

• Essa “sobrepressão” exercida no teto pelo equipamento, mais precisamente, pelo aumento do nível de vácuo, pode levar à ocorrência de lesões na ponta do teto, entre elas, a hiperqueratose.

Como evitar – A sobreordenha também pode acontecer no início da ordenha. Veja as dicas do procedimento correto:

• O primeiro passo da preparação da vaca para a ordenha é realizar o teste da caneca de fundo escuro bem feito, com posterior desinfecção do teto e secagem deles após 30 segundos de atuação do desinfetante.

• A colocação da teteira e início da ordenha devem ser realizados entre 60 e 90 segundos após o teste da caneca, pois, nesse período, a vaca estará bem estimulada.

• Vacas bem preparadas antes da colocação do conjunto têm melhor descida de leite e com isso, menor risco de ocorrerem lesões no teto. É possível sobreordenhar uma vaca no começo da sessão de ordenha se ela for mal preparada, pouco estimulada, pois haverá baixo fluxo de leite e nível de vácuo elevado na ponta do teto, o que pode ocasionar lesões.

Diagnóstico é uma necessidade

O diagnóstico é visual, sendo feito por meio do registro do “escore de tetos”. As lesões são classificadas em uma escala de 1 a 4. Quanto maior o escore, mais grave a lesão. No escore 1, observa-se a hiperqueratose em uma forma menos pronunciada, representada pelo espessamento da pele que forma e circunda o canal do teto. No escore 2, já é possível notar a formação de anel na extremidade do teto. No escore 3, o anel já se apresenta mais rugoso, com a dobra de queratina no orifício do teto. No escore 4, o anel é muito proeminente, com aspecto de “flor”, explica Heloise Duarte, acrescentando que os produtores devem avaliar a condição do teto imediatamente após o conjunto de teteiras ser removido e antes de o desinfetante ser aplicado.

Ela assinala que a maior propensão para a ocorrência de hiperqueratose está, entre outros fatores, ligada às características anatômicas do teto, como formato e diâmetro da ponta do teto, posição e comprimento do teto. O diâmetro e o comprimento dos tetos aumentam de acordo com o número de lactações das vacas. Assim, vacas com maior número de partos podem ter maior propensão, mas os fatores anatômicos não devem ser avaliados isoladamente. Também é preciso considerar o nível da produção de leite, a taxa de pico de fluxo de leite, o estágio da lactação, as condições climáticas, sazonais e ambientais e a genética das vacas.

É possível evitar essas lesões?

Evitar completamente não, visto que alguma hiperqueratose da ponta do teto é esperada como uma reação à ordenha. No entanto, com algumas práticas pode-se controlar ou reduzir o agravamento das lesões. “Como para qualquer outro parâmetro para atuar, primeiro precisamos conhecer a situação. Fazer uma avaliação inicial da condição das pontas dos tetos do rebanho é o primeiro passo”, orienta a médica veterinária.

Ela destaca que o ideal é que se faça o exame de todos os tetos em pelo menos 80% dos animais. Assim, obtém-se uma amostra representativa das vacas de todos os grupos de alimentação e manejo, levando em conta o estágio de lactação.

O escore de tetos é avaliado periodicamente, uma vez por mês, por exemplo, nas fazendas que utilizam o software Ideagri. Os dados vão para o programa e, das análises desses dados, tira-se um relatório, com tabelas e gráficos, dos valores consolidados mensalmente do total de tetos avaliados e do porcentual de análises por escore.

“Se mais de 20% dos tetos tiverem escores 3 ou 4, ou mais de 10% tiverem escore 4, investigar o equipamento e o manejo de ordenha é bastante recomendável. Além disso, mesmo que não sejam observados os porcentuais citados, acompanhar a ocorrência de lesões nos tetos, entre as avaliações, permite diagnosticar problemas no manejo antes de afetarem mais matrizes”, frisa Heloise.

Fototerapia para prevenção e tratamento

Um experimento realizado em 2014, pelos pesquisadores da UFMG Pedro Lage, Angélica Araújo, Alexandre Teixeira, Marcos Pinotti e Rafael Faleiros, utilizou um dispositivo fotobiomulador de LED para prevenção e tratamento de hiperqueratose de teto e prevenção da mastite subclínica em um rebanho de leite com alta taxa de prevalência de hiperqueratose (35,5% de casos graves)

Foram utilizadas 60 primíparas para o experimento de prevenção e 30 vacas com hiperqueratose para experimento terapêutico. Em ambos os casos, metade dos animais foi tratada com o dispositivo fotobiomulador três vezes por semana, durante seis semanas.

O protocolo terapêutico com uso de irradiação com LED na extremidade do teto testado pelos pesquisadores da UFMG não foi efetivo em prevenir o desenvolvimento ou reduzir lesões instaladas de hiperqueratose em vacas leiteiras, em regime de três ordenhas diárias e com alta prevalência da afecção.

Contudo, o uso do protótipo de fotobiomodulação se mostrou útil e promissor como adjuvante na prevenção do aumento de tamanho das lesões de hiperqueratose de teto de primíparas e como forma de reduzir incidência de mastite subclínica em vacas leiteiras já acometidas.

“Já tive a oportunidade de ler alguns trabalhos sobre o assunto. Um deles, inclusive, foi realizado na Fazenda São João/TrueType, em Inhaúma (MG), que é uma das primeiras clientes nossas. Alguns estudos indicam potencial para a fototerapia. Entretanto, não conheço o uso ou os resultados da fototerapia em condições de campo”, diz Heloise Duarte.

Na avaliação da especialista, apesar de a hiperqueratose não ser uma ocorrência passível de eliminação total, realizar as avaliações periódicas, registrar adequadamente as informações e analisar os dados obtidos são fundamentais. “Poderemos, então, atuar de forma corretiva ou preventiva, com ações que não necessariamente envolvem grandes investimentos. Assim, evitamos prejuízos, mantemos a produtividade, causamos impactos positivos relevantes na qualidade do leite, na rentabilidade da atividade leiteira e, por último, mas não menos importante, no bem-estar dos animais”, conclui.


 Ideagri

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