A notícia pouco animadora constava em destaque, em julho, no site da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel): naquele mês a bandeira tarifária permaneceria vermelha, em patamar 2. Na prática, significava que o brasileiro pagaria R$ 5 a mais por 100 quilowatts-hora de energia elétrica consumida, dada a restrição do fornecimento por causa do baixo nível de água dos reservatórios das usinas hidrelétricas do País. Pelo menos enquanto as chuvas não voltarem em abundância para encher as represas, a situação pouco deverá mudar. E, para uma propriedade leiteira, que tem na conta de luz dos seus principais custos de produção, a notícia também não é animadora, obrigando o pecuarista a fazer malabarismos para contornar o preço cada vez mais alto, estampado na fatura mensal.Há, entretanto, uma solução cada vez mais acessível para o produtor de leite fugir não só da conta energia como também de falhas ocasionais do fornecimento, com a vantagem adicional de acumular créditos na concessionária para uso futuro: a energia solar. Com instalação de painéis solares ou fotovoltaicos na propriedade, o criador pode garantir energia suficiente para sistema de ordenha, tanque de expansão, aquecimento de água, iluminação de instalações, de residências e currais, irrigação, ventilação e aspersão em galpões de compost barn ou free-stall, bombeamento de água e o que mais necessitar de eletricidade para funcionar. Especialistas ouvidos pela balde Branco garantem que se foi o tempo em que sistemas de geração solar eram considerados caros e praticamente inviáveis no País.Atualmente, com equipamentos mais baratos e linhas de financiamento, a tecnologia se torna uma alternativa factível para substituir a eletricidade fornecida pela concessionária. Que o diga a produtora de leite Helena Nogueira Frota de Aquino. Na Fazenda Baixadão, em Carmo da Cachoeira, no Sul de Minas Gerais, um sistema de energia fotovoltaica acabou de ser instalado no telhado do galpão de compost barn. Foram colocados 262 módulos ou painéis (cada um com 2 x 1 metro) que captam a luz do sol, transformando-a em energia equivalente a 12 mil quilowatts/hora por mês (kWh). Isso será suficiente para as atividades do compost barn – iluminação e ventilação do galpão, que abriga 100 vacas Holandesas PO em lactação (média de 35 litros/animal/dia); resfriamento do tanque de expansão, acionamento do sistema de ordenha; aquecimento de água para lavagem de equipamentos e bomba de água.
Investimentos compensam
Também um cafezal de 46 hectares, sendo 9 irrigados por gotejamento, vai ter sua cota com energia para irrigação e acionamento dos secadores e outros equipamentos necessários à cultura. “O projeto também foi feito para ampliar a irrigação no cafezal para 17 hectares”, comenta Helena Frota, acrescentando, ainda, que no planejamento energético se incluiu e a projeção de crescimento das atividades para os próximos cinco anos.
“A ideia é que a propriedade não só gere sua própria energia, como também forneça o excedente para o sistema”. Explica o engenheiro civil Marcus Vinícius Silveira da Silva, proprietário da Probanc Solar, empresa de Belo Horizonte – MG, que fez a instalação.
“Isso garante créditos em energia que podem ser utilizados no prazo de até cinco anos” acrescenta ele, mencionando, por exemplo, a necessidade de uso do sistema da Cemig em dias muito nublados – quando os painéis captam uma menor quantidade de luz natural.
“Assim, os créditos acumulados durante o verão podem ser usados no inverno”, exemplifica Silva.
Com o investimento de R$ 320 mil, Helena Frota está empolgada com a economia que fará ao longo do tempo. A criadora tem tudo na ponta do lápis: mensalmente, ela paga por volta de R$ 7 mil de conta de energia para todas atividades produtivas da fazenda (leite e café), ou R$ 84 mil por ano. Assim, eliminando este custo, em 3,8 anos será possível amortizar o investimento (dividindo R$ 320 mil por R$ 84mil). “Com a vantagem, ainda, da carência de um ano para começar a pagar o empréstimo, que será, posteriormente, quitado em parcelas anuais”, diz a produtora. O sistema tem durabilidade aproximada de 25 anos e manutenção simples, como a limpeza anual dos painéis fotovoltaicos para que captem o maior nível possível de luz solar.
Em relação ao custo de energia elétrica por litro de leite, a criadora detalha: “Em 2017, R$ 0,03 do custo do litro de leite eram referentes à energia elétrica. Este ano, com alta da conta de luz, passei a gastar R$ 0,05/ litro. Com a energia solar, não vou gastar nem R$ 0,01. Vou praticamente zerar – tendo em vista que tenho uma taxa fixa obrigatória a ser paga para Cemig, de cerca de R$300 por mês”.
Equipamentos mais baratos e crédito a juros baixos
Com a facilidade de obtenção de crédito para instalação de painéis fotovoltaicos, além de incentivos governamentais pela geração de energia a partir de fontes limpas e renováveis, o uso da energia solar vem crescendo no Brasil, garantem especialistas.
Dentro do plano safra 2018/2019, por exemplo, há linhas que financiam equipamentos a juros subsidiados e com recursos do BNDES, como Inovagro (Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica da Propriedade Rural), o Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural) e também o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Para os dois primeiros, os juros variam entre 5,25% e 7,5% ao ano. Já para o Pronaf, são menores, girando em torno de 4,6% ao ano. “São linhas com um bom tempo de carência e taxas atraentes”, diz o engenheiro civil Marcus Vinícius Silveira da Silva, proprietário da Probanc Solar. Para ele, este é um dos motivos que têm levado os produtores rurais a se interessarem por alternativas energéticas.
Na opinião dele, porém, a energia fotovoltaica compensa mais para propriedades que têm um alto gasto energia elétrica. “No caso da pecuária de leite, creio que seja mais adequada a médios e grandes produtores”, continua Silva. “Se o pequeno produtor tiver, por exemplo, R$ 100 mil para investir, ele vai preferir comprar um trator, em vez de instalar painéis fotovoltaicos”, compara. “Para sistemas de compost barn, então, é um sistema ideal, por causa do alto consumo de energia dos galpões”, completa.
A fazenda Baixadão é parceira e usuária do IDEAGRI.