Fazenda Santo Ângelo – crescimento e rentabilidade

AOS OLHOS DO DONO

Produtor de leite na região Sul de Minas Gerais vê de perto o crescimento da produção e rentabilidade do negócio após implantar estratégias que envolvem conhecimento, gestão e racionalização dos custos.

A paixão pelo agronegócio levou o economista e contabilista Geraldo Viotto a investir na atividade leiteira em meados da década de 1990. Natural de Oswaldo Cruz/SP, ele saiu de casa aos 18 anos de idade para estudar e trabalhar na capital paulista, onde reside até hoje.

Nascido em um pequeno sítio de produção de café de propriedade do avô materno, Viotto sempre teve fortes ligações com o campo, o que fomentou ainda mais seu desejo de investir em uma atividade rural, como um negócio. Foi aí que em 1996, três anos após adquirir uma propriedade na cidade mineira de Turvolândia, decidiu dar início a uma pequena produção de leite. Começou com um modesto sistema de piquetes, contando com cinco animais, um funcionário e uma produção diária de 32 litros. “Quando adquiri a propriedade, fiquei três anos pensando no que iria produzir. Optei pelo leite por ser uma atividade comum na região e que proporcionava renda mensal para custear as despesas. E no início realmente foi assim”, relembra Viotto.

Mas a atividade foi crescendo e alcançou uma produção de 2.700 litros/dia, com 130 vacas em lactação, o que saturou essa propriedade e fez com que ele buscasse novas terras para expandir o negócio. Em 2007, com outra área já adquirida e barracões construídos, transferiu toda a produção para a nova propriedade.

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Um ano importante e decisivo na trajetória desse eficiente gestor do leite foi 2008, quando ele se desligou da empresa que trabalhava em São Paulo e resolveu aplicar todo seu conhecimento na atividade leiteira. Nesse período, a antiga propriedade e outras terras adquiridas produziriam café. Viotto, no entanto, foi tomando ainda mais gosto pela pecuária de leite e em 2012 resolveu colocar foco na atividade. Vendeu as propriedades de café e aumentou os barracões para alojamento de animais na Fazenda Santo Ângelo, em Turvolândia/MG.

Como toda propriedade leiteira, os desafios surgiram. Em 2015, devido ao grande número de animais, o volume de dejetos gerados era alto e a conta de energia elétrica representava um custo bastante significativo na fazenda. Aplicando seus conhecimentos em números, Geraldo pesquisou a respeito e decidiu implantar biodigestores na propriedade, além de placas fotovoltaicas para geração de energia. “Quando questionei a um consultor sobre o que poderíamos fazer para reduzir o alto custo com energia elétrica, ele me sugeriu que aumentássemos a produção de leite. Eu disse a ele que não queria aumentar a receita e sim, diminuir os custos, esse é o caminho. Por isso optei pelos biodigestores e energia solar” destacou. Atualmente, 75% da energia consumida para manter a fazenda é gerada na propriedade, sendo 50% proveniente do biogás e 25% da energia solar.

A FAZENDA

A Fazenda Santo Ângelo possui uma área agriculturável de 100 hectares (ha), todos destinados à produção de milho e silagem. A propriedade conta ainda com áreas adjacentes, adquiridas recentemente, e outras arrendadas para produção de silagem, totalizando 230 ha para produção de silagem e grão úmido.

Com 950 animais da raça holandesa, sendo 450 em lactação, a fazenda produz diariamente 16.000 litros de leite (10% a mais que em 2018), em um regime de três ordenhas e com uma produção média de 35,5 L/vaca/dia. A propriedade conta com barracões do tipo free stall e um conjunto de ordenha duplo 10, modelo espinha de peixe.

Nos barracões, estão atualmente os animais em lactação, as vacas e novilhas do pré-parto. “A intenção é no futuro alojar todos os animais”, prevê Viotto que lidera uma equipe de 20 funcionários.

NUTRIÇÃO

A dieta dos animais é composta por silagem de milho, farelo de soja, polpa cítrica, caroço de algodão, grão úmido de milho, farelo de glúten com levedura, sais minerais, além de uma ração composta por alimento volumoso e ingredientes particulados finos. Essa ração, conhecida popularmente como “comidão”, possui alta digestibilidade, nutrientes e energia para atender às exigências dos animais, sendo composta, em média, por 55% de matéria seca (MS), 13,5 % de proteína bruta e 65% de nutrientes digestíveis totais (NDT).

“O comidão é altamente palatável, possui um cheiro muito bom e os animais adoram”, afirma Wesley Merante, supervisor de produção da Santo Ângelo. “Fui um dos primeiros clientes a adquirir o produto. Trata-se de uma ótima fonte de fibra efetiva na dieta dos nossos animais”, complementa Viotto. De acordo com Jeniffer Padilha, técnica da empresa que fornece a dieta especial, relatos positivos de que quem está utilizando a estratégia alimentar é a grande recompensa. “É gratificante receber esse feedback sobre a qualidade do produto e os resultados obtidos” comemora.

O balanceamento da dieta é realizado de acordo com a produção de leite dos animais de cada lote. As vacas são divididas em cinco lotes, sendo dois de alta produção, um lote de novilhas, dois com animais de menor produção e um lote onde ficam as vacas e novilhas pré-parto.

Em média, os lotes de alta produção estão recebendo uma dieta com 67% de volumoso e 33% de concentrado. Já para os lotes de menor produção são oferecidos 73% de volumoso e 27% de concentrado, e as novilhas recebem uma dieta com 68% de volumoso e 32% de concentrado.

No lote pré-parto, além da dieta acidogênica, os animais recebem aditivos probióticos, as leveduras. Os aditivos possuem vários benefícios como aumento da digestão de fibras e da ingestão de matéria seca, otimiza o ambiente ruminal proporcionando uma melhor saúde de rúmen, maior produção e qualidade de leite e, consequentemente, mais saúde aos animais no pós-parto. O uso de aditivos persiste na dieta do pós-parto imediato. “A gordura do leite aumentou 12,5%, passando de 3,20% para 3,60%. Já em relação à proteína, o incremento foi de 10%, subindo de 3,0% para 3,30% após a utilização de aditivos na dieta”, destaca Viotto.

Além desse cuidado, as vacas no pré-parto são monitoradas diariamente e é realizada medição do pH de urina semanalmente para verificação da eficácia da dieta acidogênica e evitar futuros problemas. Animais que estão mais próximos ao parto têm uma atenção especial, sendo monitorados durante o dia e boa parte da noite. O objetivo é que os funcionários estejam sempre atentos à necessidade de auxílio na parição, bem como realizar os primeiros cuidados com o neonato.

Nas primeiras semanas após o parto, os animais recebem atenção especial do médico veterinário responsável pela reprodução na propriedade. Além do drench, que as fêmeas recebem logo após parirem, é realizada também a medição de corpos cetônicos semanalmente, além de monitoramento de comportamento e consumo.

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BEZERRAS

Os cuidados com os neonatos na Fazenda Santo Ângelo se iniciam logo após o parto, no menor intervalo possível. As bezerras são separadas da mãe ainda na baia de parição, sendo levadas para uma baia ao lado onde são colostradas e passam pelo procedimento de cura do umbigo com iodo 10%. No mesmo dia, a bezerra é alojada no bezerreiro do tipo gaiola suspensa individual em barracão.

Esses animais jovens recebem o aleitamento duas vezes ao dia. A fazenda optou por não utilizar sucedâneo e as bezerras lactentes recebem leite “bom” das vacas em lactação. Em alguns dias, a propriedade dará início à pasteurização do leite de descarte para fornecimento às bezerras. Até então, todo o leite de descarte é destinado ao biodigestor.

Até os cinco dias de vida, os animais recebem 4 litros de leite/dia, passando no sexto dia para 6 litros. Quando atingem 45 dias, são fornecidos novamente 4 litros/dia, e se introduz um pouco de silagem junto ao concentrado. A diminuição do leite nesse período visa aumentar o consumo da dieta sólida. O concentrado é fornecido à vontade desde o primeiro dia de vida. Água de qualidade também está sempre disponível aos animais.

Durante o aleitamento, o ganho médio de peso diário (GMD) está em torno de 1,3 kg/ dia. O desaleitamento das bezerras é realizado aos 65 dias de vida com peso aproximado de 90 kg. Após o desmame, os animais são alojados em piquetes coletivos e recebem silagem e ração formulada, sendo a mesma dieta que vinha sendo oferecida antes do desmame. Nessa fase, o GMD é de 950 gramas/dia.

Aos 13 meses de idade, pesando 350 kg, as novilhas são inseminadas. No inverno, é utilizado sêmen sexado de fêmea, pois a concepção nessa época do ano é melhor. A taxa de concepção das novilhas está em torno de 40%, com uma taxa de prenhez de 40% e taxa de serviço de 70%.

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EVOLUÇÃO GENÉTICA

O programa de melhoramento genético da Santo Ângelo preconiza o aumento da produção de leite, incremento de sólidos como proteína e gordura, longevidade dos animais e fêmeas que apresentem bons índices reprodutivos.

A fazenda utiliza inseminação artificial e IATF. A taxa de concepção das vacas está em 38,3%, com uma taxa de prenhez de 25,12% e uma taxa de serviço de 66%, baseada nos últimos 12 meses.

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CUSTOS, GESTÃO, FUTURO

Sempre visando a maximização da receita, a racionalização dos custos e garantir/melhorar a qualidade dos processos, Viotto adquiriu recentemente uma máquina de lavagem industrial e iniciará, em breve, o uso de toalhas de tecido na limpeza dos tetos no momento da ordenha. “Conversei com o técnico responsável pela qualidade do leite para ficarmos atentos ao iniciarmos esse processo para não comprometermos a qualidade”, destacou.

A meta do proprietário é ter 600 animais em lactação nos próximos anos e manter um fluxo de caixa positivo para que a atividade permaneça sempre no “azul”. Viotto acredita que o planejamento, a gestão e racionalização dos custos são fundamentais para o sucesso da atividade e a rentabilidade do negócio. Quando questionado sobre sucessão, respondeu: “Hoje eu não tenho e não sei se terei, porém, com uma empresa rentável, eu não preciso me preocupar com o futuro dela. Quando eu não conseguir mais administrá-la, eu posso vendê-la a preço justo.”

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Fonte: Revista Leite Integral – setembro/2019 – Reportagem de Cláudia Ribeiro

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