Presença da mulher no agronegócio é crescente e foi tema de congresso em São Paulo.
Entre as 90 fazendas de leite que se classificaram com a melhor pontuação na última edição do Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB 3, setembro 2019), 30% são geridas por mulheres ou contam com mulheres em papéis relevantes na administração ou assistência técnica. A pesquisa, feita via web e WhatsApp, foi dirigida para as fazendas “top 10%” entre 905 fazendas qualificadas para aquela edição do IILB. Trata-se da primeira pesquisa nessa linha de questionamento, portanto, não há histórico para comparação, mas o número não surpreendeu Heloise Duarte, CEO da Ideagri, que realizou o levantamento.
“A presença feminina no trabalho das fazendas, em nossa carteira de clientes, como usuárias do sistema, bem como em cursos, leilões, feiras e eventos do setor é cada vez mais significativa”, diz Heloise Duarte, citando, por exemplo, que a proporção de graduadas nos cursos relacionados ao agronegócio tem se igualado e até mesmo superado a de homens. A presença de empresárias e técnicas em sindicados, federações e organizações do segmento também está em crescimento. No entanto, aponta a pesquisa, as mulheres ainda enfrentam dificuldades relacionadas à questão de gênero. “74% das respondentes afirmaram já ter enfrentado barreiras simplesmente por serem mulheres”, diz ela.
“Apesar dos desafios, o protagonismo e a capacidade de observação e análise globais das mulheres devem avançar com mais força no setor do agronegócio, colaborando com o processo de mudança necessário para valorização da imagem da propriedade rural e dos produtores e para a evolução do setor”, diz Heloise Duarte, que cita a resposta de um técnico responsável por duas das fazendas de leite em Alagoas: “Não temos mulheres em atuação em nossas fazendas, mas se tivéssemos nosso desempenho seria melhor ainda!.”
“O Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, realizado em São Paulo, nos dias 08 e 09 de outubro foi uma demonstração da crescente presença da mulher na mais dinâmica atividade econômica do país”, ressalta a empresária, que é médica veterinária e fundadora da Ideagri, desenvolvedora de software de gestão de fazendas e que atende mais de 5.000 fazendas no Brasil, sendo dessas, aproximadamente 80% produtoras de leite.
Na fase qualitativa da pesquisa, 27 mulheres responderam ao questionário on-line, que avaliou escolaridade, faixa etária, posição e área de atuação na fazenda, desafios e dificuldades encontrados (por serem mulheres), visão de futuro e envolvimento com o mundo digital. Os resultados dessa primeira pesquisa são apresentados a seguir. “Continuamos a receber respostas depois do prazo de fechamento da pesquisa, o que indica que a representatividade dessa amostragem vai aumentar”, sugere Heloise.
Perfil das mulheres
A maior parte das mulheres que atua em fazendas de leite têm ensino superior completo (77%). Dessas, 27% cursaram pós-graduação ou mestrado. A maior parte delas está na faixa etária entre 21 e 40 anos (73%).
Atuação profissional
Entre os papéis mais exercidos pelas mulheres nas fazendas, 32% são de gestoras (proprietárias ou gerentes das fazendas), 32% são técnicas (veterinárias e zootecnistas), 31% exercem funções administrativas e 5% estão relacionadas ao trabalho direto com o rebanho (ordenha, bezerreiro, sanidade, alimentação etc.). A principal área de atuação das mulheres é nas operações e produção (50%), seguida por tecnologia e gestão de dados (32%) e por compras, vendas e área comercial (18%).
Visão de futuro
Em relação aos planos para o futuro do negócio ou carreira, o otimismo que marca o agronegócio brasileiro está também presente entre as mulheres respondentes da pesquisa IILB. Nenhuma marcou opções muito negativas (sair do negócio ou da profissão) ou negativa (reduzir atuação na área). 100% das mulheres que participaram da pesquisa IILB tem visão de futuro muito positiva (crescer a atividade ou se aprimorar tecnicamente) ou positiva/neutra.
Desafios e trunfos na gestão do negócio
Quando perguntadas sobre discriminação de gênero no trabalho, 74% das respondentes já vivenciaram diferenças de oportunidades quando comparadas aos seus colegas homens; 50% delas já enfrentaram barreiras para serem ouvidas ou enfrentaram resistência à liderança feminina. Além disso, 36% das mulheres também relataram dificuldades em conciliar as atividades profissionais com a vida pessoal.
Características no trabalho
Quando perguntadas sobre características mais inerentes à mulher, usadas de forma positiva na gestão, podendo selecionar mais de uma opção, 82% disseram ser menos ansiosas do que os homens ao enfrentar problemas e na busca das melhores soluções; 76% afirmaram preocupação em buscar o melhor de cada profissional e 76% se declararam ‘multitarefas’.
Perfil digital
Outra característica avaliada na pesquisa foi o grau de utilização de tecnologias digitais. De uma lista de oito aplicações de tecnologia, sendo possível selecionar vários itens, 84% das mulheres pesquisadas afirmaram que fazem compras ou pesquisas de preços pela internet; 79% delas participam de grupos de discussão relacionados ao negócio pelo WhatsApp; e 74% usam aplicativos no celular para gestão do negócio (rebanho, por exemplo).