Coluna IILB Revista Leite Integral – De pequeno que se torce o pepino

A fase inicial da criação de bezerras, compreendida entre o nascimento e a desmama, é uma etapa que merece toda a atenção de técnicos e produtores. Além dos cuidados com a saúde e o conforto dos animais para evitar altas taxas de mortalidade, o cuidado com a nutrição das fêmeas merece destaque. Não apenas por contribuir para uma maior taxa de sobrevivência, mas, também, por influenciar na produção de leite da futura matriz.

O intuito das análises apresentadas nas colunas IILB (Índice Ideagri do Leite Brasileiro) é validar premissas técnicas com base na observação de dados reais de rebanhos brasileiros. Na edição 132 da Revista Leite Integral, o tema abordado foi o impacto da idade ao primeiro parto na produção de leite da matriz. Na mesma linha de análise, o tema escolhido para esta coluna foi o impacto do ganho de peso até a desmama na produção de leite da primeira lactação da matriz.

O universo de dados contemplou rebanhos participantes da 6ª edição do IILB (IILB 6) e as amostras foram padronizadas da seguinte maneira:
• Rebanhos com o Perfil 1 do IILB – mais de 93,5% de grau de sangue europeu, neste caso, predominantemente holandês.
• Primeiras lactações encerradas no período abrangido pela 6ª edição do IILB (de abril de 2019 a março de 2020), com produção informada e duração superior a 250 dias de:
• Fêmeas com peso ao nascimento informado.
• Fêmeas com peso à desmama informado.
• Fêmeas desmamadas entre 50 e 100 dias.

Dos 985 rebanhos participantes da 6ª edição do boletim, 28% eram do Perfil 1. Desses, 43 rebanhos possuíam pelo menos 10 lactações nas condições citadas anteriormente e contribuíram para a coluna. O volume considerado para as análises, com todos os dados necessários, foi de 2.335 lactações.

Os dados usados neste estudo são lançados no Software Ideagri, que é a base para a geração da nota IILB. O peso à desmama não consta na lista de indicadores utilizados no cálculo e foi obtido exclusivamente para produzir as análises aqui apresentadas, fazendo a relação com a produção de leite na primeira lactação, que participa do IILB.

Em todos os rebanhos no Perfil 1, inclusive nos 43 qualificados, milhares de primeiras lactações não puderam participar do estudo em função, principalmente, da ausência do peso à desmama das matrizes. O registro do dado é facultativo, no entanto, registrar o peso à desmama pode embasar importantes decisões de manejo – fica aqui um estímulo para realizar o registro!

É necessário pontuar que o parâmetro “Prod. leite total/corrigida 1ª lac.”, apresentado no material, considera a produção total de leite para matrizes com lactação encerrada com menos de 305 dias de duração ou a produção de leite corrigida para 305 dias, no caso de lactações com duração superior a 305 dias. As fórmulas utilizadas, para as duas situações, foram as da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Holandês.

RESULTADOS COM BASE NAS LACTAÇÕES INDIVIDUAIS

A distribuição percentual das desmamas por faixas de ganho de peso detalhadas pode ser observada no Gráfico 1. O ganho de peso médio até a desmama foi de 829 g. É possível verificar uma tendência de crescimento da Prod. leite total/corrigida 1ª lac. com o aumento nas faixas de ganho de peso, visto que, em faixas de maior ganho, houve uma maior ocorrência de produções acima da média, a qual foi de 9.073 kg.

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A análise dos dados das lactações individuais mostrou que fêmeas com maiores ganhos de peso até a desmama produzem mais leite na primeira lactação (Gráfico 2). Os extremos superior e inferior das faixas de ganho de peso foram agrupados para homogeneizar o volume de dados por faixa.

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Primeiras lactações de matrizes que tiveram ganho de peso até a desmama, igual ou inferior a 625 g, tiveram produções 7% menores do que matrizes com ganho de peso até a desmama, igual ou maior que 1.040 g. Isso representou mais de 600 kg de diferença por lactação (Tabela 1).

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ANÁLISES COM BASE NAS MÉDIAS POR FAZENDA

A média geral do parâmetro “Prod. leite total/ corrigida 1ª lac.” obtida no IILB 6, para todos os 276 rebanhos do Perfil 1, foi de 6.964 kg e, para as 10% fazendas mais bem pontuadas no perfil, foi de 8.290 kg. Como comentado, não necessariamente todas as primeiras lactações dos 43 rebanhos foram consideradas para análise, sendo que maior motivo de descarte dos dados foi a ausência de peso à desmama. Neste contexto, a média da “Prod. leite total/corrigida 1ª lac.”, independentemente do volume de lactações, foi de 8.803 (média das médias do rebanho). A média para o ganho de peso até a desmama por rebanho foi de 816g.

A nota média geral do IILB 6, para os 43 rebanhos avaliados, foi de 5,80, nota superior àquela obtida pelos demais rebanhos do Perfil 1, que foi de 4,46. Isso indica uma tendência esperada de que fazendas com mais cuidados em seus controles, como as que lançam pesos à desmama e se qualificaram para este estudo, tendem a ter melhores desempenhos. (Tabela 2)

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CONCLUSÕES

Os dados avaliados mostram que maiores taxas de ganho de peso das bezerras até a desmama têm impacto positivo na produção de leite na primeira lactação das matrizes. Assim, há oportunidade para que rebanhos do Perfil 1 elaborem estratégias de controle e de incremento no ganho de peso das bezerras até a desmama, não negligenciando, é claro, a ampla gama de outros fatores que também impactam na produtividade da matriz e do rebanho.

Considerando a realidade de cada empresa rural, a definição de estratégias nutricionais para a fase inicial do desenvolvimento das bezerras deve ser respaldada por uma boa gestão, para que haja equilíbrio entre o desempenho zootécnico e o resultado financeiro.

Planejar a criação de bezerras com uma visão a longo prazo pode ser um desafio, especialmente em épocas de alta do leite. Isto porque as bezerras geram despesas por longos períodos até que entrem em produção e gerem renda. No entanto, negligenciar os animais que serão as futuras vacas do rebanho pode comprometer o investimento, pois, como no dito popular, é de pequeno que se torce o pepino: decisões tomadas hoje refletirão na produção de leite das matrizes, não só na primeira lactação como demonstrado neste artigo, mas em toda a vida produtiva da matriz.

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