Um dos maiores desafios na atividade leiteira é a criação de fêmeas para a reposição, que representa o futuro da produção em qualquer propriedade, e nem sempre recebe o devido cuidado. O futuro de qualquer atividade pecuária reside na produção de animais jovens, de melhor qualidade que a gerações anteriores. São os chamados “animais de reposição”, essenciais para a continuidade e evolução da produção, seja de carne ou leite. A principal finalidade da criação de bezerras e novilhas é produzir animais de alta qualidade para a reposição de vacas a serem descartadas, melhorando assim, o mérito genético e, portanto, o potencial de produção do rebanho. Confira a matéria completa, com destaque para o IILB, divulgada na Revista Brasil Pecuária.
Especificamente na atividade leiteira, a criação das novilhas de reposição tem um impacto profundo na lucratividade da fazenda, e nem sempre recebe a devida atenção. De acordo com o Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB), divulgado em 2019, 15% das bezerras com menos de um ano morrem nas fazendas leiteira brasileiras por problemas sanitários e de manejo. Isso quer dizer que quinze em cada 100 bezerras nascidas em fazendas de leite no Brasil morrem antes de completar doze meses, na maioria dos casos por questões de resolução simples e barata, como manejo e boas práticas sanitárias e profiláticas. O número real pode ser ainda maior, pois os dados são referentes a 900 fazendas que estão entre as mais tecnificadas do país, responsáveis pela produção de 1,37 bilhão de litros de leito por ano, aproximadamente 4% da produção nacional.
“A informação de sobrevivência é um importante recursos para realizar projeções de rebanhos e planejamentos financeiros. Das 69 mil bezerras nascidas entre abril de 2018 e março de 2019 nessas fazendas, foram registradas aproximadamente 11 mil baixas, desconsiderando-se os descartes voluntários”, contabiliza Heloise Duarte, médica veterinária e diretora geral do IILB.”
Segundo ela, 56% das mortes de bezerras registradas pelo levantamento do IILB devem-se a três fatores: diarreia (21%), tristeza parasitárias (20,43%) e pneumonias (14,29%). “Essas são causas que podem ser resolvidas com ações de gestão simples, que não exigem investimento vultosos. A diarreia decorre da falta de higiene nos currais, a tristeza parasitária é transmitida por carrapato e a pneumonia pode ser reduzida com maior cuidado na acomodação dos animais “, exemplifica. Para ela, pode-se notar a diferença entre as fazendas que gerenciam esses problemas. Pelos dados do IILB, nas fazendas posicionadas ente as “Top 10%”, a mortalidade das bezerras é 41% menos. “Nessas, morrem nove a cada 100m e isso é uma grande diferença”, diz ela. Outro ponto e comparação feito pela diretora: nos Estados Unidos, uma referência entre as fazendas de leite, a Dairy & Calf Heifer Association (DHCA) indica que a expectativa ideal é de uma mortalidade de 10% de bezerras e novilhas até os 24 meses (dois anos). |
“A informação de sobrevivência é um importante recursos para realizar projeções de rebanhos e planejamentos financeiros. Das 69 mil bezerras nascidas entre abril de 2018 e março de 2019 nessas fazendas, foram registradas aproximadamente 11 mil baixas, desconsiderando-se os descartes voluntários”, contabilizas Heloise Duarte, médica veterinárias e diretora geral do IILB.”
Segundo ela, 56% das mortes de bezerras registradas pelo levantamento do IILB devem-se a três fatores: diarreia (21%), tristeza parasitárias (20,43%) e pneumonias (14,29%). “Essas são causas que podem ser resolvidas com ações de gestão simples, que não exigem investimento vultosos. A diarreia decorre da falta de higiene nos currais, a tristeza parasitária é transmitida por carrapato e a pneumonia pode ser reduzida com maior cuidado na acomodação dos animais “, exemplifica.
Para ela, pode-se notar a diferença entre as fazendas que gerenciam esses problemas. Pelos dados do IILB, nas fazendas posicionadas ente as “Top 10%”, a mortalidade das bezerras é 41% menos. “Nessas, morrem nove a cada 100m e isso é uma grande diferença”, diz ela. Outro ponto e comparação feito pela diretora: nos Estados Unidos, uma referência entre as fazendas de leite, a Dairy & Calf Heifer Association (DHCA) indica que a expectativa ideal é de uma mortalidade de 10% de bezerras e novilhas até os 24 meses (dois anos).
Para o consultor técnico em bovinos de leite da Cargill Nutrição Animal, Alexandre Pedroso, a produção de boas novilhas é essencial para substituírem as vacas que naturalmente saem do rebanho, pelos mais variados motivos. “Mesmo que a ‘perda’ de vacas no rebanho, por doenças ou outros distúrbios, seja pequena, a vida produtiva desses animais é limitada, de forma que é imprescindível ter na fazenda um bom programa de criação de bezerras e novilhas, para garantir a reposição adequada dessas vacas”, diz ele.
Porém, de acordo com Alexandre, infelizmente muitas fazendas ainda não dão a devida atenção a essa questão. “Ainda há produtores que pensam nas bezerras e novilhas apenas como um item de custa da fazenda, quando, na verdade, deveriam encarar a criação desses animais como um dos investimentos mais importante para a lucratividade. Via de regra, esse é um dos grandes exemplos de que o barato pode sair muito caro”, explica. Para o especialista, um bom programa de criação de bezerras e novilhas deve ter por objetivo principal a “entrega” de novilhas parindo em bom estado por volta dos 24 meses (no caso de rebanhos com predominância de sangue europeu). “Para tal, há algumas metas a cumprir, que são parâmetros fundamentais para garantir a eficiência do processo, como garantir a ingestão de quantidade adequada de colostro de boa qualidade nas primeiras 24 horas de vida da bezerra. Outro parâmetro importante, ou meta a ser atingida, é conseguir que aos 90 dias de vida a bezerra apresente pelo menos 17% do peso adulto desejado. Isso significa que o PV adulto é de 600 quilos, as bezerras deverão pesar pelo menos 102 quilos aos 90 dias de vida”, afirma Alexandre. |
Nutrição das bezerras
Apesar da importância das bezerras de reposição, elas nem sempre são as mais bem cuidadas da fazenda. Muitas vezes, as bezerras são as últimas a serem atendidas em suas necessidades nutricionais. E essa pode não ser a melhor estratégia para o futuro do projeto, como orienta o gerente de Bovinos das Auster Nutrição Animais, Mário Viderman.
“De maneira geral, as atividades de rotinas nas propriedades têm como foco ações que visam a obtenção de resultados imediatos. No caso das fazendas de leite, a prioridade é cuidar bem das vacas em produção. Sem contar as emergências frequentes, devido à baixa atividade preventiva”, destaca Mário.
O especialista recomenda que é muito importante ter atenção ao futuro da produção. “Em nossas casas, frequentemente focamos em ações de resultados imediatos. Raramente separamos um tempo preparando o futuro. É como se dedicássemos menos tempo na formação de nossas crianças e mais tempo lavando a louça”, exemplifica Mário. Para Alexandre, para a criação de uma boa bezerra de reposição é preciso seguir um bom programa de aleitamento e iniciar precocemente o fornecimento de ração inicial. “O consumo de alimentos sólidos é restrito nas primeiras semanas de vida, mas, é fundamental que sejam introduzidos precocemente para que o desenvolvimento do rúmen seja estimulado o quanto antes, O objetivo de um bom programa nutricional nessa fase é atingir o consumo de ração inicial (concentrado) de 2 kg/ida para promover a desmama, entre 60 e 90 dias de vida. Obviamente essa ração deve ser de alta qualidade, contendo aditivos específicos que ajudem no desenvolvimento ruminal e na prevenção e doenças. Nos primeiros 90 dias, a ocorrência de doenças não deve passar de 10% e a mortalidade bezerras deve ficar abaixo de 5%”, projeta o especialista. |
Após a desmama, Alexandre explica que o foco é atingir o peso adequado para a primeira cobertura, por volta dos 13 a 15 meses de idade. “A meta é ter pelo menos 75% das novilhas prenhes aos 15 meses de idade, com, no mínimo, 55% do PV adulto quando tiverem a prenhez confirmada, mas, infelizmente isso ainda é um desafio em muitas fazendas. No entanto, é preciso entender que atingir essa meta é fundamental para garantir a lucratividade da operação leiteira”.
De acordo como o especialista, investir corretamente em nutrição durante a fase pré-púbere pode resultar em redução na idade de primeira cobertura e, consequentemente, de primeiro parto, o que é altamente desejável. “No entanto, esse investimento precisa gerar retorno financeiro positivo em um prazo mais curto e, para tal, é fundamental adotar tecnologias corretas, usar alimentos de alta qualidade, formular adequadamente as dietas e fazer um bom acompanhamento do ritmo de crescimento das bezerras e novilhas em cada etapa”, acrescenta.
Sendo assim, é preciso enxergar toda a cadeia produtiva do leite como um todo, sem deixar para segundo plano os animais que são o futuro da atividade. “É muito importante que produtores de leite e técnicos envolvidos no manejo dos rebanhos leiteiros entendam que a criação de novilhas é um investimento que pode ter retorno em prazo mais longo ou mais curto, de acordo com a qualidade do trabalho feito com esses animais e com o nível de investimento em manejo, qualidade dos alimentos e uso adequado de tecnologias. Esse investimento determina a vida útil desses animais no rebanho e o quanto eles darão de retorno financeiro ao produtor”, finaliza Alexandre.