Muito tem se falado sobre a saída de produtores, especialmente de menor porte, da atividade leiteira. Pelo Censo Agropecuário de 2017, divulgado pelo IBGE em 2018, tivemos aproximadamente 1,17 milhão de fazendas que produziram leite de vaca no Brasil. Em relação ao Censo de 2006 houve uma redução de 13%. Entre os dois levantamentos, que tiveram 11 anos de diferença, cerca de 175 mil propriedades deixaram de existir. A taxa de fechamento foi de 1,2% ao ano, sendo que as propriedades que mais saíram do negócio foram as pequenas fazendas (22% de fechamento na faixa de até 5 hectares).
Vale destacar que, pelos dados obtidos no Censo, 54% dos produtores de leite comercializam sua produção de forma sistemática. Já os outros 46% podem ou não comercializar, especialmente de forma sazonal, e isso tem um impacto relevante na indústria, bem como na dinâmica do mercado. Essa diferenciação impacta na forma como interpretamos a taxa de saída da atividade e traz algum grau de complexidade às análises. No entanto, como não há informação da taxa de saída de forma discriminada entre quem comercializa ou não o leite, vamos considerar os dados globais.
Devemos levar em consideração também a consolidação das fazendas que acontece no Brasil, apesar de ser em menor grau do que acontece nos EUA, onde a saída das fazendas leiteiras da atividade foi de 4,2% ao ano no período de 2002 a 2018.
CONSOLIDAÇÃO: CAUSA X CONSEQUÊNCIA
Questões estruturais, macroeconômicas e mercadológicas importantes podem ser tanto causas como consequências da consolidação das fazendas produtoras de leite.
Os padrões de consumo das novas gerações vêm mudando de forma cada vez mais rápida e relevante (produtos de origem animal vs. produtos de origem vegetal). Ao mesmo tempo, as questões relativas ao bem-estar animal também influenciam a dinâmica da cadeia produtiva. Os produtores e a indústria têm respondido a isso, se preocupando efetivamente com o bem-estar animal. Essas questões têm sido divulgadas, levando ao consumidor final informações técnicas e científicas sobre os produtos lácteos. Há, ainda, uma busca pela valorização do papel do produtor na sociedade, e temos pela frente um amplo caminho a percorrer neste processo de disseminação de conhecimento.
Em um mundo globalizado, no qual o volume e a velocidade de informações compartilhadas (nem sempre verídicas) aumentam vertiginosamente, acompanhar a nova dinâmica, as tendências e os entraves é desafiador, mas necessário para os envolvidos na atividade leiteira.
Para produtores e técnicos, um ponto de partida é conduzir as fazendas para que sejam cada vez mais eficientes e rentáveis, independentemente de seu porte, para um futuro mais promissor na atividade. “Fazer o dever de casa” e aprimorar a gestão dentro da porteira, independentemente do tamanho da fazenda, dará mais chances para que ela continue existindo, considerando os aspectos comentados anteriormente.
UMA FAZENDA TEM QUE SER GRANDE PARA SER EFICIENTE?
Com o intuito de responder a esta pergunta, nesta coluna correlacionamos o tamanho da fazenda com sua eficiência. Fizemos uma leitura da relação do porte das fazendas com a nota geral do IILB (Índice Ideagri do Leite Brasileiro). Trata-se de uma nota única, de 0 a 10, que contempla 12 indicadores e permite comparar fazendas entre si, independentemente do porte ou do perfil racial do rebanho.
Na 4ª edição do IILB, que contemplou o período de outubro/2018 a setembro/2019, foram avaliados 912 rebanhos, que somaram uma produção diária de 3,39 milhões/dia. No acumulado de 12 meses, a edição representa 1,24 bilhão de litros por ano e mais de 260 mil matrizes (novilhas e vacas).
Para a análise, foram definidas quatro faixas de porte das fazendas, em função do estoque médio de vacas (em lactação e secas). A distribuição percentual das fazendas por faixa pode ser vista no Gráfico 1:
- Até 100 vacas
- De 101 a 200 vacas
- De 201 a 300 vacas
- Acima de 300 vacas
CERCA DE 175 MIL PROPRIEDADES DEIXARAM DE EXISTIR ENTRE O CENSO AGROPECUÁRIO REALIZADO EM 2006 E O DE 2017
A variação da nota Geral do IILB entre as faixas de porte das fazendas foi relativamente suave, sendo que as fazendas da primeira faixa (até 100 vacas) tiveram nota média de 4,07, superior à faixa seguinte (101 a 200 vacas). A faixa com melhor pontuação média foi a terceira (201 a 300 vacas), seguida da faixa de maior porte (acima de 300; conforme Gráfico 2).
“FAZER O DEVER DE CASA” E APRIMORAR A GESTÃO DENTRO DA PORTEIRA, INDEPENDENTEMENTE DO TAMANHO DA FAZENDA, DARÁ MAIS CHANCES PARA QUE ELA CONTINUE EXISTINDO
Já na Tabela 1 é possível avaliar as notas médias por perfil racial do rebanho e geral, por faixa de porte da propriedade. Nesta tabela também é possível comparar, dentro de cada perfil racial e para todas as fazendas, o desempenho Top 10% das propriedades mais eficiente em relação às demais. Pela observação dos dados, fica claro que as de menor porte apresentam performances comparáveis às de maior porte. Em algumas situações, as fazendas menores podem até mesmo se destacar entre as mais eficientes em relação às maiores, como aconteceu no perfil racial 3 e no geral de todos os perfis.
TAMANHO x EFICÊNCIA
Pelos números obtidos com base em 912 fazendas amplamente distribuídas pelo Brasil, fica claro que o tamanho do rebanho não está necessariamente relacionado com a eficiência da fazenda. A nota média geral do IILB 4 foi de 4,07 pontos. Distribuindo o percentual de fazendas por porte em relação à média nacional, percebemos que as fazendas de menor porte têm desempenho muito similar às de maior porte (veja Gráfico 3).
É de extrema importância ressaltar que o objetivo da análise aqui realizada não é negligenciar, em hipótese alguma, o fato da escala de produção ser vantajosa, especialmente em um país como Brasil, com grandes desafios logísticos e de infraestrutura básica. Ao contrário, os resultados obtidos no IILB 4 mostram que, com a eficiência produtiva, reprodutiva, sanitária e econômica na atividade leiteira, o produtor está mais preparado para lidar com os desafios futuros. Seja grande, médio ou pequeno, desde que haja competência na gestão da fazenda, é possível que a produção seja eficiente.
IILB
Assista ao vídeo sobre o Índice IDEAGRI do Leite Brasileiro (IILB) que vem mudando a forma como toda a cadeia produtiva no Brasil promove a avaliação do desempenho do setor. No vídeo, confira informações sobre a abrangência, metodologia e saiba como acessar as informações.