É batata! A mastite sempre ‘dá as caras’ nos eventos destinados ao leite, seja em palestras, cursos, rodas de conversas ou relatos de casos. Até mesmo no papo com o produtor vizinho, nos seminários, pesquisas, conferências on-line. É…. a “bichinha” parece mesmo não querer dar trégua. Mas o que fazer? Procrastinar ou arregaçar as mangas e buscar os grandes avanços que o mercado hoje dispõe para controlá-la e até mesmo combatê-la?
Partindo do princípio que você votou na segunda opção, do lado de cá podemos garantir que para o ringue dessa luta, atualmente possuímos ferramentas muito mais precisas para combater a inimiga. A ciência não para e diversas tecnologias de ponta se tornaram muito mais acessíveis.
E qual é o primeiro passo para acertar a mão? É entender ao máximo a enfermidade. Essa etapa parece banal porém crucial para ter a segurança necessária a fim de selecionar o melhor manejo e tratamento (quando necessário) com a equipe e os técnicos que dão o suporte à fazenda.
Você enxerga a doença a olho nu?
A mastite é uma condição caracterizada por uma reação inflamatória no tecido do úbere, normalmente causada por micro-organismos encontrados tanto no ambiente como nos próprios animais. Se não tratada, ela pode se espalhar para o rebanho e consequentemente ampliar os danos ao produtor.
E por que questionamos se você enxerga a doença nos animais? Porque uma das principais diferenças entre a mastite clínica e a subclínica é justamente a presença de sintomas visíveis. Diferenciá-las é importante para estudar os rumos sobre o que fazer. Na clínica, os sintomas – como grumos no leite, inchaço ou vermelhidão do úbere – são aparentes, mas, por outro lado, as infecções subclínicas não causam alterações perceptíveis na aparência do leite ou do úbere, dificultando o seu diagnóstico.
Mesmo “não vista”, a infecção subclínica afeta os resultados financeiros do produtor já que reduz a produção leiteira, diminui a qualidade do leite e suprime o desempenho reprodutivo. E como é realizado o diagnóstico? Fazendo a medição por meio da contagem das células somáticas (CCS) ou pelo teste CMT (California Mastitis Test), que também é conhecido como “teste da raquete” em quartos suspeitos.
A mastite clínica é classificada de acordo com os sinais que o animal apresenta. Ela pode ser leve, quando apenas o leite apresenta algum tipo de alteração como por exemplo a presença de grumos ou sangue, consistência diferenciada ou até mesmo interferências na coloração. Nesse caso, não há alteração da glândula mamária. No grau moderado, há alteração do leite e da glândula mamária, como inchaço e/ou vermelhidão. E por último, na mastite grave, a vaca adoece de maneira geral. Além das alterações no leite e na glândula mamária, ela também sofrerá com alterações sistêmicas como febre, falta de apetite e/ou desidratação. Felizmente, cerca de 80% dos casos nos rebanhos são de mastite leve.
A partir da definição do grau, o plano de ação é desenhado e o protocolo de tratamento ajustado para cada situação específica. Para fazendas que têm acesso ao sistema de cultura microbiológica, os casos leves e moderados podem aguardar e não necessitam de tratamento imediato. Após 24 horas e com o resultado da cultura em mãos, é que se esboça o plano. Já os casos graves, exigem tratamento imediato, com o objetivo de dar suporte ao animal. E conhecendo a causa da mastite antes do tratamento, já imaginou quantas decisões diferentes poderiam ser tomadas?
Devemos somente acompanhar ou tratar os animais com mastite clínica?
Como dito anteriormente, o andar da carruagem dependerá do correto diagnóstico clínico e do agente causador da infecção. Esses dois itens são de extrema importância e servirão de guia para o plano de ação. Este último é completamente inviável em casos de mastite clínica quando não se conhece o micro-organismo e o grau da doença, afinal, essa etapa é determinante para saber se a vaca precisará ser tratada ou não e – se precisar de tratamento – quais drogas serão utilizadas. Mas como assim há a possibilidade dos animais não serem tratados?
Os casos de mastite clínica que apresentam resultados negativos na cultura microbiológica não precisam de tratamento. Quando encontramos esse cenário, que corresponde em média de 30 a 50% dos casos clínicos, podemos apenas observar o animal para ver se ocorrerá a cura espontânea. Inclusive, essa opção é respaldada por diversas pesquisas que mostram que não há riscos ou prejuízos em não se realizar tratamento com antibióticos em animais com mastite clínica de grau leve e moderado e que apresentaram resultados negativos na cultura microbiológica.
Já quando o resultado deu positivo na cultura, é preciso traçar um planejamento específico para cada vaca. Vamos exemplificar: um caso leve com alterações no leite pode ser tratado apenas com antibiótico intramamário e em situações moderadas, o caminho pode ser o mesmo associado ao tratamento com os anti-inflamatórios. Quando o caso é grave, além dos antibióticos intramamários e anti-inflamatórios, a antibioticoterapia injetável também entra em jogo levando em consideração que o animal já apresenta uma infecção mais generalizada e demanda suporte terapêutico com maior senso de urgência. Personalização é a palavra-chave! Padronizar as soluções para todos os animais e deixar de pensar em cada vaca com as suas devidas particularidades pode induzir o produtor ao famoso “tiro no pé”. A utilização indevida de medicamentos favorece a resistência dos micro-organismos e dificulta a resposta a tratamentos futuros.
E quando devemos tratar a mastite subclínica? Vale a pena?
Sem dúvida a cultura microbiológica também é uma grande aliada nesses casos. A cultura na fazenda identifica as fontes de infecções das bactérias e seleciona as vacas que realmente necessitam de tratamento. A grande maioria das bactérias contagiosas, por exemplo, está presente na forma subclínica da mastite e o intuito da cultura na fazenda é que elas não passem despercebidas, não sirvam de veículo e não comprometam os animais saudáveis.
Para o melhor entendimento do potencial problema das bactérias causadoras de mastite subclínica é recomendado o exame de cultura microbiológica do leite em animais que apresentarem CCS > 200 mil células/ml, e de todos novos casos de infecções subclínicas (CCS <200 mil na análise anterior e > 200 mil na análise atual), dos animais pós-parto (principalmente novilhas) e de mastite clínica. Quanto mais precoce o diagnóstico dos patógenos, melhores os resultados das condutas.
Além de conhecermos o patógeno presente na infecção, outros itens devem ser levados em consideração: como está a saúde da vaca; qual é o histórico desse animal; a recorrência da doença e até se é um caso crônico de mastite. Todas essas questões são importantes para entender a necessidade ou não do tratamento durante a lactação. Novamente cabe aqui a particularidade de cada caso e de cada animal.
Uma outra dica e – não menos importante – é a prevenção. Informação nunca é demais e saber os porquês e como a doença se instala no rebanho auxiliam fortemente nessa batalha.
Podemos ser maiores e mais estratégicos contra os micro-organismos, que são minúsculos, porém, gigantes em promover desmedidos estragos.
Autoria do texto:
Raquel Maria Cury Rodrigues, Zootecnista pela Unesp de Botucatu.
Ananda Finco, Médica Veterinária e mestre em Medicina Veterinária preventiva pela FMVZ/UNESP-Botucatu. Analista de Sucesso do Cliente na OnFarm.
Sobre a OnFarm
A OnFarm traz uma solução simples, inovadora e única, que permite a identificação da causa da mastite em 24 horas, na própria fazenda, através da cultura microbiológica. Conhecer o agente de forma rápida é indispensável para o sucesso de qualquer programa de controle da mastite. A tecnologia acredita no empoderamento dos produtores, para que tomem decisões cada vez mais assertivas. O produtor em primeiro lugar, sempre. Para mais informações acesse: https://onfarm.com.br/ ou entre em contato no WhatsApp (19) 97144-1818 ou e-mail: contato@onfarm.com.br | Acompanhe nas redes sociais: Instagram | Facebook | LinkedIn | Youtube
Fontes consultadas:
Adkins, P.R.F.; Middleton, J.R. Methods for Diagnosing Mastitis. Veterinary Clinics: Food Animal Practice, v.34, p. 479–491, 2018.
Granja, Bruna. Vale a pena tratar vacas com mastite subclínica durante a lactação? Disponível em: <https://onfarm.com.br/tratamento-mastite-subclinica-lactacao/> Acesso em 01/10/2021.
Rodrigues, Raquel. Mastite subclínica: o inimigo invisível? Disponível em: <https://onfarm.com.br/mastite-subclinica/> Acesso em 01/10/2021.
Van den Borne, B.H.P.; Van Schaik, G.; Lam, T.J.G.M.; Nielen, M.; Frankena, K. Intramammary antimicrobial treatment of subclinical mastitis and cow performance later in lactation. Journal of Dairy Science, v.102, p. 1-11, 2019.