Fazenda Barreiro Alto se destaca por ser criatório das grandes campeãs da raça Holandesa nas últimas três edições da Megaleite.
Criatório das grandes campeãs da raça Holandesa nas últimas três edições da Megaleite, s Fazenda Barreiro Alto comemora também o incremento em índices produtivos e reprodutivos após investimentos estruturais na propriedade
No plantel da Fazenda Barreiro Alto, em Sete Lagoas/MG, há mais de 1000 fêmeas de excelente genética e caracterização leiteira. A propriedade, sede do criatório de gado Holandês com afixo Meara, é a casa da atual Grande Campeã da etapa Megaleite do Circuito Nacional da Raça Holandesa, Meara Elza Doorman 5785. A fêmea que chamou a atenção dos participantes da Exposição e ganhou, além do prêmio máximo, muitos elogios do jurado, desfila pela Fazenda exibindo a pomposa faixa à qual fez jus.
Embora seja um período de seleção relativamente curto até então (aproximadamente 14 anos), ganhar títulos em grandes eventos da raça não é propriamente uma novidade para o criatório de propriedade de Mauro Araújo. Sobretudo a partir de 2010, quando foi o melhor criador/expositor na Feileite, Feira Internacional da Cadeia Produtiva do Leite em São Paulo/SP. Nos anos seguintes, seguiu colecionando prêmios de melhor criador da raça em Minas Gerais. Entre 2015 e 2018 uma vaca da fazenda Barreiro Alto (Meara Goldwyn Carly – TE) fez história no Holandês e cravou ainda mais o nome do criatório entre os melhores do país, colaborando para a conquista do prêmio de melhor criador/expositor do Circuito Nacional da raça em 2017. Em meio a diversas premiações, Carly sagrou-se Grande Campeã Nacional Agroleite 2015, em Castro/PR, e duas vezes Campeã da Raça Holandesa na Megaleite, 2017 e 2018.
Mas nem só de premiações em pistas de julgamento vive uma fazenda leiteira. O criador Mauro Araújo faz questão de destacar que no trabalho de seleção busca aproximar características desejáveis aos animais de exposição/pista e de produção. “Esses dois mundos precisam andar juntos”, ressalta. Atualmente a fazenda produz mais 15.000 litros/ leite/dia, em três ordenhas, com 452 vacas em lactação. Uma média de 33,8 litros/vaca/dia. Quando a propriedade foi adquirida, há 14 anos, a produção era de 2.000 litros de leite. Mauro atribui esse crescimento aos investimentos em animais altamente selecionados, também em agricultura, estrutura (instalações/equipamentos) e equipe qualificada para um manejo adequado.
A genética disponível hoje no plantel da Barreiro Alto foi adquirida, inicialmente, dos melhores criatórios de Holandês do país, inclusive alguns animais gerados por embriões importados. Ao longo dos anos, a Fazenda foi produzindo seu próprio rebanho, com foco nos critérios de seleção, sempre buscando animais com boa caracterização para produção de leite e, sobretudo, saudáveis, funcionais, produtivos e longevos dentro da criação.
A FAZENDA
A propriedade possui 990 hectares, sendo 480 ha destinados à produção de alimentos para a pecuária leiteira, já que os animais são criados em confinamento. A área restante é utilizada para produzir feijão, soja e oferecer pastagem às receptoras de embrião, além da reserva legal. O engenheiro agrônomo Márcio Luiz Chaves é o responsável pela agricultura da Fazenda. De acordo com ele, todas as forragens que compõem a dieta dos animais são de produção própria, sendo parte das culturas desenvolvidas sob irrigação por pivô. “O material procedente da troca da cama das unidades de compost é utilizado nas lavouras em substituição à adubação química. Isso tem gerado excelentes resultados, tanto em produção quanto em economia com aquisição de adubos”, comemora Márcio.
A criação está dividida em três setores: dois galpões compost barn (com capacidade para 440 vacas cada) e uma sala de ordenha (tipo paralela/duplo 24 postos), que foram inaugurados em setembro de 2018 e compõem a unidade de produção. Os animais selecionados para participar de exposições (entre eles as campeãs Carly e Elza) são alojados em baias específicas para esse grupo. Outro setor importante na propriedade é a cria e recria. As bezerras permanecem em aleitamento no bezerreiro por 90 dias e depois seguem para o compost barn onde ficam até a confirmação de prenhez das novilhas.
Com a utilização dos novos galpões e da nova sala de ordenha, que entraram em funcionamento há menos de 1 ano, a fazenda experimenta um novo patamar do ponto de vista da sustentabilidade econômica. “Dentro de qualquer negócio, o investimento deve se traduzir em dois objetivos: diminuir o custo operacional e/ou aumentar a produção. Toda atividade precisa se modernizar e isso demanda investimentos”, explica Mauro Araújo, que planeja construir mais duas unidades compost barn para produção de leite. O planejamento a médio e longo prazo é chegar a 1400 vacas em lactação.
REPRODUÇÃO
A reprodução na Fazenda Barreiro Alto é ponto chave do processo de seleção. Nos dois primeiros serviços em novilhas, utiliza-se inseminação artificial (IA) com sêmen sexado de fêmea. Caso não se confirme a prenhez após uma segunda IA, avalia-se implantar embrião. A idade ao primeiro parto (IPP) dessa categoria é de 24,3 meses, em média. O manejo reprodutivo nessa fase é realizado em tempo fixo e observação de cio.
Já as vacas, passam por um período de espera voluntário (PEV) de 50 dias após o parto. Depois dessa etapa, os animais são submetidos, no primeiro serviço, a protocolo reprodutivo em tempo fixo, seja para IA nas fêmeas com características desejáveis nas avaliações genômicas, ou para receberem embrião com base nas prioridades de seleção, de acordo com a Tabela 1.
Após o serviço (IA ou implante de embrião), as vacas são marcadas com bastão na base da cauda para facilitar a observação de cio. Caso a tinta seja parcial ou totalmente removida, indicando que o animal tenha se submetido à monta por outras fêmeas, a opção adotada na propriedade é associar a, pelo menos, mais um sinal de cio para proceder a inseminação. Atualmente a taxa de serviço da Fazenda é de 64%, com 33% de taxa de concepção e taxa de prenhez de 21,5%.
PERÍODO DE TRANSIÇÃO
A atenção dedicada a cada animal da Fazenda Barreiro Alto é comum a todos as categorias. Contudo, as vacas e novilhas em período de transição são monitoradas ainda de forma mais intensa. As fêmeas lactantes são secas 50 dias antes da data prevista para o parto, vão para lote de vacas secas, onde ficam por 25 dias até serem levadas para o grupo de vacas pré-parto (maternidade). Nesse lote, elas recebem dieta a base de feno, silagem de milho, farelo de soja, caroço de algodão, resíduo de cervejaria, além de suplemento mineral acidogênico, visando reduzir os riscos de hipocalcemia puerperal e suas consequências.
Para avaliar a eficiência da suplementação acidogênica pré-parto, a propriedade preconiza a medição semanal de pH de urina. O objetivo é o máximo possível de animais, dessa categoria, com pH urinário entre 5.8 e 6.8. De acordo com o médico veterinário responsável pelo rebanho da fazenda, João Paulo de Oliveira, caso o percentual de vacas com esses parâmetros fique abaixo de 85%, é feito o ajuste da dieta.
A maternidade da propriedade é monitorada 24 horas por dia. Assim que a fêmea começa a demostrar sinais característicos de parto, o responsável pelo manejo direciona o animal para uma baia de parição com farta cobertura de palha (feno), ambiente que favorece a saúde da vaca e da bezerra. O funcionário que atua na maternidade observa o animal desde o início do trabalho de parto e, se em até uma hora a fêmea não parir, é realizada a assistência. De acordo com os dados disponíveis na propriedade, essa estratégia diminuiu o índice de natimortos que nos primeiros cinco meses de 2019 foi de 1,9%, num total de 266 nascimentos.
Mas o acompanhamento especial não para por aí. No início da lactação, as fêmeas permanecem por 14 dias em uma ala do compost destinada exclusivamente aos animais pós-parto. Nesse período, passam por cinco avaliações pelo médico veterinário da propriedade, em dias alternados, onde são verificados temperatura retal, sintomas de metrite e cetose. Com isso, havendo necessidade de intervenção, a mesma é realizada mais cedo evitando prejuízos à saúde, produção e bem-estar animal.
CRIA E RECRIA
As bezerras nascem em uma baia de parição com boa cobertura de palha (feno). Em até 6 horas após o parto elas recebem o colostro (10% do peso vivo) enriquecido com produto comercial em pó. O colostro produzido na fazenda passa por análise de qualidade por meio do refratômetro de Brix (≥22%). Caso o valor Brix não seja satisfatório, recorre-se ao banco de colostro disponível na propriedade. Além disso, para avaliar a eficiência da colostragem, no segundo dia de vida é feita a coleta de sangue para avaliação dos níveis de proteína total, sendo desejável, nesse índice, valor ≥ 5,5 g/dL.
Nos primeiros 15 dias, os animais permanecem em baias individuais onde contam com água à vontade, alimento concentrado, além de 6 litros de leite por dia. Após esse período são transferidos para o bezerreiro modelo argentino, onde permanecem nessa mesma estratégia alimentar até o desaleitamento, aos 90 dias de vida. O ganho de peso diário (GPD) médio nessa fase é de 772 gr/dia e as bezerras seguem para a recria com 107 kg, em média.
Uma unidade de compost barn é destinada às fêmeas na etapa de recria. Elas recebem dieta total e quando atingem aproximadamente 360 kg, por volta dos 15 meses, são inseminadas ou recebem embrião. Após confirmada a prenhez, os animais seguem para outro galpão destinado às fêmeas gestantes. Aos 30 dias antes da previsão parto essas novilhas mudam para o lote pré-parto dentro da mesma unidade de compost, onde além da dieta total, recebem suplementação acidogênica.
NUTRIÇÃO
A partir da fase de recria, todos os animais da Barreiro Alto recebem dieta total a base de forrageiras e alimentos concentrados. Além de médico veterinário responsável pelo rebanho, João Paulo de Oliveira é também o nutricionista da fazenda. “Temos o foco em oferecer uma dieta de qualidade para os animais, de forma a suprir suas necessidades, garantindo boas condições de saúde e produção.” Para ele, é importante estar atento à oferta de opções de fibra longa para o estabelecimento da funcionalidade ideal do rúmen.
RESFRIAMENTO – BEM-ESTAR, SAÚDE E PRODUÇÃO
Animais da raça holandês são extremamente sensíveis ao calor, e em condições de temperaturas elevadas há o comprometimento do bem-estar, saúde e produção. Na região de Sete Lagoas/MG, onde a Fazenda Barreiro Alto está instalada, o clima é quente na maior parte do ano. Nesse contexto, desde quando optou por intensificar a criação de gado Holandês na localidade, o criador Mauro Araújo decidiu que seriam necessários novos investimentos estruturais para dar aos animais condições ambientais de demonstrar seu máximo potencial.
As vacas em lactação são resfriadas por meio de aspersores e ventiladores, seis vezes por dia. São três banhos no canzil da pista de alimentação do compost barn e três na sala de espera da ordenha. Os banhos duram de 40 minutos a 1 hora, e o objetivo, como demostrado no Gráfico 1, é manter a temperatura dos animais abaixo de 39.1ºC, para assegurar o bem-estar e o máximo desempenho produtivo e reprodutivo. “É preciso molhar bem as vacas, com bom volume de água e gotas grossas, além de garantir vento na velocidade correta”, explica João Paulo.
A expansão estrutural (novas instalações e equipamentos) pela qual a propriedade passou no segundo semestre do ano passado permitiu a melhoria de diversos índices dentro da criação. Destaque para o aumento da produção de leite, aumento do consumo pelos animais, e queda nos casos de doenças. Além disso, conforme a Tabela 2, as novas instalações somadas às estratégias de manejo e resfriamento, melhoraram de forma evidente a reprodução das vacas.
Fonte: Revista Leite Integral – março/2019