Fazenda Céu Azul – Leite em família

A sucessão familiar e a gestão eficiente da Fazenda Céu Azul permitiram a consolidação da atividade leiteira, o aumento da produtividade e novos investimentos.

O apoio das novas gerações é fundamental para dar continuidade às empresas familiares. Esse é, hoje, um dos principais desafios dos produtores de leite. Não para João Vander Ferreira, produtor rural que há quatro anos ganhou o suporte do filho Danilo Resende Ferreira na gestão da Fazenda Céu Azul, localizada em Silvânia/GO. Com o reforço na administração, a propriedade recebeu investimentos tecnológicos e incrementou o volume da produção.

A história da Fazenda Céu Azul teve início no ano 2000, quando João Vander comprou a propriedade – inicialmente, com a intenção de produzir grãos. Mesmo após dois anos de investimentos, o negócio não estava rendendo o esperado. Foi então que o produtor rural e sua esposa, Maria Cristina de Resende, resolveram se aventurar na pecuária de leite.

Com uma ordenha balde ao pé, a produção ainda era pequena: 200 L de leite por dia. Cristina se aposentaria em breve e seria necessário um incremento na renda da família. Os Ferreira, então, aportaram mais recursos, e o volume de leite produzido aumentou consideravelmente, chegando a 1.800 L/dia. Mas era preciso crescer mais.

Um novo sistema de ordenha balde ao pé foi construído, quatro anos depois, com capacidade de produção de 4.000 L de leite por dia. Porém, o rebanho aos poucos foi aumentando, e o volume de leite produzido triplicou, chegando a 12 mil litros por dia, extrapolando toda a capacidade produtiva da fazenda. Nessa época, a ordenha das 450 vacas era feita durante 21 horas por dia, em três turnos diferentes. Todas elas ficavam em sistema de confinamento em piquetes com pista de alimentação. “Esse sistema não proporcionava o bem-estar que queríamos aos nossos animais”, afirmou o proprietário. 

Por isso, em 2015, João Vander teve que tomar uma decisão: investia ou saía da atividade leiteira. Foi quando o filho Danilo percebeu que era preciso ajudar os pais e assumiu a administração da Fazenda Céu Azul. Novos investimentos foram feitos, o primeiro deles na construção de dois galpões de free stall para alojar 750 vacas. A fazenda também ganhou uma ordenha tipo lado a lado com 40 postos, e capacidade para ordenhar 170 vacas por hora. “Temos a fazenda de antes e a de depois do confinamento. Houve uma mudança total em relação ao bem-estar e à sanidade dos animais, assim como do volume de produção”, destacou João.

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SISTEMA DE PRODUÇÃO

A propriedade possui 542 ha (hectares), sendo que 290 ha são destinados à lavoura do milho, utilizado para a produção de silagem, e de soja, para comercialização. Na área restante estão as instalações utilizadas na produção de leite, piquetes para os animais e áreas de preservação permanente

O rebanho é formado por 1.370 animais, divididos da seguinte forma: 392 animais em crescimento, 279 novilhas, 143 vacas secas e 556 vacas em lactação. A média de produção das matrizes é de 31 L/vaca/dia, e as ordenhas são realizadas três vezes ao dia.

No novo sistema de confinamento construído, o free stall, foram gastos R$ 3.900 por vaca alojada. Hoje, a fazenda conta com 28 funcionários que se dividem entre as atividades diárias da fazenda.

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NUTRIÇÃO

A dieta das vacas em lactação é composta basicamente por silagem de milho, farelo de soja, caroço de algodão, milho moído, earlage, cevada, casca de soja e feno de tifton. A divisão desses animais é feita em cinco lotes: pós-parto, alta produção (primíparas), alta produção (multíparas), média produção e baixa produção.

A alimentação é oferecida em três dietas diferentes para atender as demandas de cada lote: uma dieta é fornecida aos lotes de alta produção; outra, ao lote de média; e outra, ao de baixa produção. O que as diferencia são alguns componentes que são inseridos na alimentação dos animais mais exigentes (na dieta de alta, por exemplo, tem metionina) e a quantidade dos alimentos que é distribuída, de acordo com a produção das vacas.

A ingestão de matéria seca dos lotes é dividida em alta primíparas, com consumo médio da dieta total de 23,54 kg; alta multíparas, de 25,74 kg; média, de 23,74 kg; baixa, de 18,1 kg; e pós-parto, de 20,68 kg. Na média de todos os lotes, a cada quilo ingerido de matéria seca da dieta, é produzido 1,34 L de leite, sendo que os lotes de alta produzem média de 1,6 L por quilo ingerido. 

O sistema de alimentação utilizado na propriedade é inovador. Como forma de sistematizar o manejo, foi implantado um software com funcionamento via RFID (identificação por radiofrequência) e internet. Na entrada e na saída de cada linha de cocho, há etiquetas RFID que sinalizam toda a operação de distribuição da alimentação, incluindo o horário de cada trato. Com o uso dessa tecnologia, houve economia de 4% a 5% do gasto diário com nutrição, o que corresponde a aproximadamente R$ 8.000 do gasto total da fazenda. O custo com alimentação é o item com maior impacto no orçamento da propriedade. “Antes, não tínhamos controle dos gastos. A dieta recomendada pelo nutricionista, por exemplo, não estava sendo fornecida adequadamente às vacas, e isso impactava os custos”, contou Danilo.

Os gestores da fazenda, hoje, têm todos os números na palma da mão. Eles sabem exatamente qual dieta está sendo consumida por suas vacas e conseguem gerir com mais eficiência os custos com a alimentação do rebanho. Além disso, contam com apoio técnico de uma empresa de nutrição animal que faz auditoria semanalmente na propriedade para levar informações sobre boas práticas. 

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PRÉ-PARTO

As vacas são secas 60 dias antes do parto e ficam em um sistema de piquetes, recebendo dieta total no cocho. Os animais são levados uma vez ao dia para resfriamento com aspersão e ventilação, durante 40 minutos, na sala de espera da ordenha. A dieta dos animais secos é composta pelas sobras dos cochos das vacas em lactação e capim verde cortado.

Até 30 dias antes do parto, elas são levadas para o free stall. No confinamento, elas são divididas em lotes de pré-parto de novilhas e de vacas. Elas recebem dieta total composta por silagem de milho, cevada, feno de tifton, concentrado do pré-parto e sal aniônico.

O pH urinário dos animais no pré-parto é monitorado semanalmente e, caso o indicador esteja alterado, são feitos ajustes na dieta. A meta é ter 90% dos animais com pH abaixo de 7.

PARTO E PÓS-PARTO

Quando as vacas entram em trabalho de parto, são levadas para a baia maternidade com cama de palha. Os partos são assistidos. A Fazenda Céu Azul dispõe de duas pessoas para cuidar da maternidade, sendo um sanitarista, que verifica eventuais problemas no confinamento, e um técnico responsável por cuidar do parto, da colostragem das bezerras e da inseminação de todos os animais.

Logo após o parto, a bezerra é retirada da baia maternidade e levada para uma casinha suspensa, onde recebe cerca de 10% do peso vivo de colostro (4 L) via sonda esofágica. O material é proveniente do banco de colostro e tem boa qualidade (acima de 22% de Brix). “Garantimos a colostragem antes de quatro horas de vida de 95% das nossas bezerras”, destacou Danilo.

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Até 24 horas após o nascimento, são feitas a coleta de sangue e a análise de transferência de imunidade passiva por meio do refratômetro. O sistema de colostragem da propriedade é bem controlado, o que possibilitou a constatação de que bezerras com valores séricos de proteína (IgG) acima de 6,2 g/mL ganham 25 g de peso corporal a mais, por dia, quando comparadas às bezerras que possuem valores de IgG menores.

O monitoramento da saúde dos animais no pós-parto também é feito com total atenção. São realizados testes de diagnóstico para cetose, e a temperatura corporal de todas as matrizes é mensurada para diagnosticar qualquer afecção que possa causar o aumento desse parâmetro. Com o aprimoramento no monitoramento das doenças metabólicas no período de transição, a fazenda conseguiu aumentar a produção de leite aos 20 dias em lactação [veja no gráfico abaixo] e teve melhores resultados reprodutivos, entre eles o aumento em 20% da taxa de concepção em 2018, quando comparado a 2017.

CRIAÇÃO DE BEZERRAS

Nas casinhas individuais suspensas, as bezerras permanecem por cinco dias, recebendo 8 L de leite de transição divididos em duas mamadas. Após esse período, elas são levadas para um bezerreiro em sistema tropical e passam a receber 8 L de leite de descarte pasteurizado, sendo 4 L pela manhã e o restante à tarde. Além do leite, são fornecidos concentrado farelado produzido na própria fazenda e água à vontade.

O desaleitamento é feito de forma gradual. A cada semana, a quantidade de leite fornecido é reduzida, e o volume de concentrado, aumentado. Isso ocorre até no dia anterior à desmama, quando a quantidade de leite é zerada. As bezerras são desmamadas aos 90 dias de idade e com 100 kg. Elas são levadas para piquetes, em lotes de 15 animais, onde recebem dieta total à base de silagem de milho e concentrado no cocho. 

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O principal problema sanitário nessa fase é a tristeza parasitária, que ocorre, principalmente, logo após o desmame. Para fazer o diagnóstico precoce da doença, os gestores da propriedade optaram por mensurar a temperatura corporal dos animais duas vezes por dia a partir do histórico da bezerra. Caso haja alguma alteração, medidas emergenciais são tomadas para diminuir as perdas causadas por essa enfermidade.

CRIAÇÃO DE NOVILHAS

As novilhas são criadas em piquetes, em grupos de 40 animais, e recebem uma dieta composta por silagem de milho e concentrado. Elas são liberadas para reprodução quando completam 13 meses e atingem 330 kg. Não é feita IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) nesses animais. Ocorre a observação do cio natural, com o auxílio de um adesivo tipo “raspadinha” que é fixado entre o quadril e a extremidade superior do rabo. É utilizado sêmen sexado até a terceira inseminação do animal. Após isso, apenas sêmen convencional.

Com esse manejo, os índices reprodutivos das novilhas são: idade ao primeiro parto de 24,5 meses, taxa de concepção de 43% e taxa de prenhez de 24,8%.

REPRODUÇÃO

Em todas as vacas em lactação é feita IATF. Os acasalamentos são realizados por empresas de biotecnologia que fornecem o sêmen utilizado na propriedade. A seleção dos touros é baseada em melhoria genética de produção e saúde. Com isso, são obtidos os seguintes índices reprodutivos: taxa de concepção de 38% e taxa de prenhez de 23,8%.

A taxa de descarte em 2018 foi de 12%. O índice está acima do ideal devido à seleção de animais. As principais causas são CCS (Contagem de Células Somáticas) alta crônica e afecções dos sistemas reprodutivo e locomotor. Segundo Danilo, neste ano a meta é, em vez de aumentar o tamanho do rebanho, reduzir 25%. “O objetivo é eliminar da propriedade animais considerados ‘problema’ para melhoramento da produtividade e qualidade”, afirma. 

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QUALIDADE DO LEITE

A qualidade do leite é um assunto levado a sério na fazenda. Uma vez ao mês é feita a coleta individual do leite para aferição da CCS e, a partir disso, é feita a linha de ordenha. Também é realizada a cultura do leite de todas as vacas que apresentam mastite para determinar o tratamento.

Como resultado de todo esse cuidado, a fazenda recebe bonificação pela qualidade do leite. Os valores são: CCS de 157 mil células/mL; CBT (Contagem Bacteriana Total) de 6.000 UFC (Unidades Formadoras de Colônia)/mL; 3,51 g de gordura/mL; 3,13 g de proteína/mL.

GESTÃO E CONTROLE DE CUSTOS

Informação é poder, e tempo é dinheiro. Por saber disso, os gestores da Fazenda Céu Azul buscaram no mercado softwares de gestão, que permitiram obter maior eficiência nos processos. Os programas implantados na propriedade possuem diversos indicadores que são atualizados de forma automática e imediatamente após o lançamento dos dados. Com a informação precisa e atualizada em mãos, os gestores conseguem fazer uma análise rápida do que está acontecendo na fazenda, o que torna mais fácil a tomada de decisão.

FAZENDA CÉU AZUL E IDEAGRI

A Fazenda Céu Azul foi uma das pioneiras na utilização do sistema de gestão Ideagri no estado de Goiás, sendo usuária do sistema desde 2010. Toda a equipe da fazenda e, principalmente, os proprietários usam, de forma muito abrangente, o sistema Ideagri para acompanhar o desempenho da fazenda. Confira o depoimento de João Wander e Maria Cristina sobre o Ideagri: 

“As nossas expectativas com o IDEAGRI têm sido, realmente, superadas. Sempre comentamos com os amigos produtores de leite que não existe programa no mercado, para esta atividade, que consiga nem mesmo se igualar ao IDEAGRI. Parabéns a toda equipe!!”João Vander e Maria Cristina Ferreira, Fazenda Céu Azul, Silvânia – GO

O custo do litro do leite é de R$ 1,38, e o preço recebido pelo litro é de R$ 1,55. “Na produção de leite, o lucro vem em centavos, então ter todos os dados da fazenda em mãos e conhecer os nossos gargalos nos permite ser mais eficientes”, enfatizou o sucessor.

METAS PARA O FUTURO

A principal meta de curto prazo da família Ferreira é focar a rotina da Fazenda Céu Azul, avaliar os procedimentos que estão sendo feitos e garantir que o combinado esteja sendo executado de forma eficiente.

No longo prazo, os proprietários esperam extrair a eficiência máxima da estrutura instalada na fazenda. Até 2023, o rebanho deve chegar a mil animais em lactação, com média de 35 L/vaca/dia. E não há quem duvide que essas metas serão alcançadas porque, com gestão eficiente e com a sucessão familiar garantida, João Vander conseguiu alçar voos que nem ele mesmo imaginava. “A chegada do Danilo fez toda a diferença na nossa produção. Com ele, enxergamos nossos problemas, fizemos os ajustes necessários, investimos no que era realmente essencial. Hoje, produzimos mais e melhor”, garante.

Fonte: Revista Leite Integral – março/2019

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