Produtores possuem as ferramentas, mas não exploram seu uso ao máximo – a época em que o fazendeiro apenas alimentava o gado e pagava as contas ficou no passado. Hoje, uma fazenda equivale a uma empresa em seu número de processos para concluir as etapas da cadeia produtiva, sendo essencial que o produtor conheça a parte técnica para saber delegar. Quem comenta a problemática é o médico-veterinário, consultor e coordenador do curso de Gestão do Agronegócio da Rehagro (Belo Horizonte/MG), Vitor Barros.
Ele indica que o conhecimento permitirá ao gestor traçar um planejamento estratégico coerente, elaborar e acompanhar o fluxo de caixa da propriedade, analisar os custos de produção de cada setor, compará-los com suas metas e gerenciar pessoas e processos. Porém, mesmo que ele tenha um bom suporte técnico ou uma boa consultoria técnica, o ideal é que ele tenha também algum conhecimento, mesmo que básico. “Isto permitirá que ele consiga monitorar os processos operacionais e criticar as decisões técnicas. Técnica e gestão devem sempre andar juntas para o sucesso do negócio”, aconselha Barros.
O especialista conta que há uma fatia média de produtores que já possuem números zootécnicos, utilizam algum software e conseguem retirar conclusões desses dados, mas que pecam muitas vezes na falta de disciplina de “parar” para avaliar estes números na frequência adequada. “Poucos são os produtores que possuem metas bem definidas, checagem de dados realizados em relação às metas em uma frequência adequada e que correlacionam indicadores zootécnicos aos econômicos para tomar decisões”, revela. Custo de produção bem apurado, diz, é uma grande ferramenta para a identificação de oportunidades de melhoria e ganha ainda mais importância quando é possível comparar os indicadores da propriedade com os de outras que sigam a mesma metodologia de apuração.
Vitor Barros destaca que o conhecimento técnico dos processos dentro da fazenda é fundamental:
“Um gestor que não tem os números de cada setor da propriedade vai ter que estar em todos os lugares, o tempo todo, para vigiar os processos. O bom gestor não monitora detalhadamente todos os processos em si, mas seus resultados. Ele atua de forma direcionada em função destes resultados, ou seja, gasta menos tempo no operacional por focar atuação apenas nas rotinas que não atingiram as metas, e com isto, sobra tempo para planejar, estruturar melhor a equipe, buscar inovações, atuar em ações para retenção da mão de obra”.
(Foto: divulgação)
Quando o assunto é gestão, existem prioridades a serem definidas. Em uma propriedade pouco estruturada, Barros afirma que o trabalho começa com passos mais básicos e fáceis de serem conduzidos. Em uma fazenda com processo mais evoluído, ele completa, a atuação inicia-se em um patamar diferente. Em linhas gerais, ele define o passo a passo básico da seguinte forma:
- Defina o objetivo do trabalho: “Quais números quero avaliar?”. É importante ter relatórios completos, mas que sejam simples de serem elaborados e que proporcionem tomada de decisão rápida e bem fundamentada;
- Defina a metodologia de apuração das informações: “Como vou fazer as informações de compras, de utilizações e de receitas chegarem até o escritório?”. Nesta etapa é importante que as funções de cada um no processo estejam claras;
- Alinhe como e com qual periodicidade os dados serão processados. “Será em planilha ou software apropriado? O responsável precisará de treinamento?”;
- Realize as primeiras análises: Novamente são definidos seus participantes e periodicidade. Normalmente, no início do mês atual são avaliados os resultados do mês anterior;
- Com alguns meses de análises, é hora de pensar no planejamento futuro: Elabore um orçamento para a propriedade (trace metas), com base no histórico apurado, na evolução projetada do rebanho e em tendências de mercado. Esta é uma fase em que conhecimento técnico tem fundamental importância;
- Após o orçamento elaborado, é realizada a checagem mensal das metas: resultados são confrontados com as metas e, para os principais desvios, são elaboradas ações de melhoria. Estas ações podem estar ligadas ao planejamento estratégico, à gestão de pessoas, a processos, definições técnicas etc. Por fim, as ações definidas que tiverem seus objetivos alcançados são padronizadas.
Gestão de pessoas. Não apenas a gestão dos processos da fazenda, mas também a motivação e treinamento dos funcionários é um ponto a ser observado. Dificuldade com mão de obra é um dos fatores mais apontados pelos produtores dentre seus desafios e o valor do salário realmente é só uma parte da questão. “Remuneração adequada, sem dúvidas, é essencial. Mas também é muito importante motivar os colaboradores através de ações”, indica Vitor Barros.
Treinamentos (para que eles entendam o motivo de cada tarefa e a consequência dela para todo o processo produtivo), reuniões (em que melhorias alcançadas sejam reconhecidas e pontos a melhorar sejam explicados e cobrados) e o envolvimento da equipe no acompanhamento de um programa de metas também pode ser motivador. “Pessoas capacitadas, que saibam o motivo e as consequências de suas tarefas, que se sintam parte de algo maior e que saibam como estão em relação ao desejado certamente errarão menos, tomarão decisões mais adequadas diante de imprevistos e pensarão duas vezes antes de aceitar uma proposta apenas por salário um pouco maior”, garante Barros.
Gestão financeira x familiar. Segundo o coordenador do curso, é muito comum que a família proprietária da fazenda utilize o dinheiro do negócio para fins particulares. Isso não está errado, desde que não comprometa o fluxo de caixa do projeto. “É importante que isto seja relatado separadamente dos custos da fazenda. É essencial que o gestor tenha clara visão de para onde foi o dinheiro do negócio: se a operação gerou dinheiro, o quanto deste valor foi investido, o quanto foi usado para reduzir nível de endividamento e o quanto foi destinado a fins particulares”, finaliza Vitor Barros, que completa: “Infelizmente poucos fazem estas separações”.