Auxiliado pela gestão, bem-estar animal se torna peça-chave na pecuária leiteira

Ter em mente que o bem-estar animal é extremamente vantajoso não só para as vacas leiteiras mas também para o produtor de leite, é o primeiro passo para a sua aderência.

Estar bem. Qualquer ser vivo, de qualquer espécie, necessita e merece transitar e viver com baixos níveis de estresse para realizar as suas funções básicas, ter saúde e longevidade. No caso de animais de produção, eles expressam o seu “ótimo” em cenários menos conflitantes. Alguns índices, como os reprodutivos, produtivos e de qualidade no leite, são exemplos de parâmetros sensíveis ao bem-estar das vacas leiteiras

O conceito de bem-estar animal é visto muitas vezes apenas como a ausência de doença ou lesão. Recentemente, além dessas premissas, há uma preocupação concentrada na dor ou angústia que os animais podem experimentar e a possibilidade deles sofrerem quando mantidos em condições aparentemente “não naturais”, ou seja, pouco instintivas e nas quais não conseguem manifestar seu real comportamento. 

Pesquisas apontam que quando as vacas reduzem o seu status social dentro do grupo, ao mesmo tempo, aumentam o período de serviço, a contagem de células somáticas e a incidência de laminite. Além disso, a produção diária de leite diminui. 

Ainda sobre laminite, outros experimentos mostraram que vacas leiteiras que permaneceram com a inflamação nas lâminas do casco – considerada uma situação de estresse crônico – apresentaram menores concentrações de progesterona, taxa de ovulação, diâmetro folicular e maior período puerperal. Nesse caso, a reprodução foi afetada, resultando em perdas ao produtor. 

A influência da mão de obra e dos hormônios liberados pelo estresse no bem-estar animal 

treinamento dos colaboradores tem papel fundamental no processo de aplicação dos conceitos relacionados ao conforto animal na fazenda, pois vacas tratadas com gentileza, sem medo e agressões, respondem de maneira muito mais positiva a diversas situações. 

A presença de um manejador agressivo pode aumentar em 70% a quantidade de leite residual durante a ordenha, reduzindo a produção leiteira. Um dos motivos para a ocorrência desse quadro é a ação da adrenalina, hormônio que também pode ser liberado em situações estressantes. Ela inibe o efeito da ocitocina, hormônio responsável pela descida do leite. 

Assim, é possível afirmar que o estresse estimula as vacas a liberar hormônios em demasia, pois elas se veem numa situação de luta e/ou fuga. Além da adrenalina já citada acima, o outro hormônio que passa a ser prejudicial em excesso é o cortisol, que influencia negativamente na absorção de nutrientes, no sistema imune, torna os animais mais sensíveis ao estresse térmico, prejudica a secreção de hormônios reprodutivos como LH e FSH, entre outros. 

É aqui que a gestão na fazenda leiteira começa a dar as caras, afinal, um bom gerenciamento engloba a capacitação da mão de obra rural a fim de conscientizá-la sobre as necessidades comportamentais e fisiológicas dos animais. 

As diversas facetas do estresse nas vacas leiteiras 

Em vacas leiteiras, se fala muito sobre estresse térmico (que realmente é de extrema importância ainda mais em um país tropical como o Brasil), mas, outras circunstâncias também podem ser extenuantes e influenciar no comportamento delas, como: 

– estresse vivenciado em alguns tipos de manejo no dia a dia;

– carência de água fresca e alimentos adequados e de qualidade;

– ações profiláticas como a vacinação;

– alterações na rotina e na dieta; 

– desmame;

– doenças e situações que provocam dor e desconforto;

– fatores sociais como mudança de lotes, ambiente e sistema de ordenha;

– entre outros. 

É importante mapear os fatores que podem estar afetando o bem-estar dos animais e pontuar melhorias. Utilizar dados e indicadores analisados por meio de um sistema de gestão e softwares e transformá-los em informações e decisões rápidas e assertivas é uma das ferramentas tecnológicas que os produtores de leite podem escolher para auxiliar nesse caminho. 

A adoção de práticas que priorizem um maior cuidados com os animais é uma cobrança atual inclusive do mercado consumidor e uma realidade vista e preconizada no mundo inteiro. Nunca se falou tanto como antes sobre rastreabilidade e o olhar para dentro da porteira, afinal, as pessoas têm o direito de saber mais a fundo como os alimentos que elas consomem são produzidos

Esse é mais um motivo para que o bem-estar seja apontado como peça-chave na produção animal e caso o pecuarista busque perceptíveis melhorias nos resultados do seu rebanho. 

Sobre a Ideagri

Ideagri é parceira do produtor na gestão e controle da fazenda, incluindo desde informações zootécnicas até controle de custos e financeiro. A Ideagri é a empresa líder no Brasil em sistema de suporte à tomada de decisão para pecuária de leite.

O que lemos para escrever esse artigo:

FERNANDES, H. Cortisol: o inimigo oculto das vacas, MilkPoint, 2020. Disponível em: <https://www.milkpoint.com.br/colunas/vaca-feliz/cortisol-o-inimigo-oculto-das-vacas-221558/>. Acesso em: 27/06/2022. 

MACEDO et al. Efeito do estresse na eficiência reprodutiva de fêmeas bovinas. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.36, n.1, p.10-17, jan./mar. 2012. Disponível em www.cbra.org.br. 

Von Keyserlingk MA, Rushen J, de Passillé AM, Weary DM. Invited review: The welfare of dairy cattle – key concepts and the role of science. J Dairy Sci. 2009 Sep;92(9):4101-11. doi: 10.3168/jds.2009-2326. PMID: 19700671.

Autora do artigo:

Raquel Maria Cury Rodrigues, zootecnista pela Unesp de Botucatu e especialista em Gestão da Produção pela Ufscar. 

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