Transformar dados em informações é fundamental para conhecer a realidade e identificar os sistemas de produção brasileiros mais eficientes. Na edição 152 da Revista Leite Integral, a coluna IILB traz uma análise das características dos rebanhos holandeses que mais se destacaram na última edição do boletim.
Nos últimos anos, a pecuária leiteira do Brasil vem passando por processo de profissionalização, no qual a cadeia produtiva está voltada para inovações tecnológicas relacionadas à gestão, nutrição, genética, saúde e ao manejo e bem-estar animal. O resultado dessa modernização pode ser observado no aumento de volume de leite produzido no Brasil. Segundo dados do IBGE, a produção de leite, em 2020, foi de 35,4 bilhões de litros, 1,5% maior que no ano de 2019.
Conhecida por ser dócil, de fácil manejo e altamente produtiva, a raça Holandês ajudou a impulsionar o setor leiteiro no Brasil, seja na produção de leite, seja na contribuição para composição genética de outras raças. Em Minas Gerais, onde se encontra a maior bacia leiteira do país, foram 9.884 registros na Associação dos Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais (ACGHMG), no ano de 2020. Esse número também é expressivo no Rio Grande do Sul, onde a Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) encerrou 2020 com mais de 8.000 mil animais registrados. Esses dados são indispensáveis para o processo de seleção e melhoramento genético da raça no país, ao selecionar o rebanho com potencial produtivo e eliminar os animais com baixa aptidão genética.
Assim, conhecer a realidade brasileira dos sistemas de produção de leite da raça Holandês se torna cada vez mais relevante, uma vez que as tomadas de decisões baseadas em fontes de dados são fundamentais para se alcançar índices de produtividade cada vez mais eficientes. Dessa forma, o Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB) tem contribuído muito com o tema, oferecendo, ao longo de suas edições trimestrais, dados sobre a eficiência da pecuária leiteira no país e disponibilizando informações inéditas, precisas e úteis.
FAZENDAS CAMPEÃS
Transformar dados em informações e oportunidades tornou-se algo de suma importância na pecuária 4.0. Uma das maiores dificuldades dos produtores de leite é encontrar indicadores que permitam avaliar a eficiência do desempenho de sua propriedade. Nesse sentido, o IILB se consolidou como referência da qualidade e eficiência produtiva da pecuária brasileira.
O benchmarking promove a avaliação do desempenho do setor, com base em rebanhos profissionais que utilizam o software Ideagri na gestão das atividades.
Em sua 11ª edição (IILB 11), disponibilizada em outubro de 2021, o boletim apresentou o suplemento especial ‘Campeãs do Leite’, que contemplou a listagem e avaliação das 100 fazendas que mais se destacaram no universo de 1.188 rebanhos. Dessas, 46 são caracterizadas por rebanhos predominantemente Holandês.
A nota de 0 a 10 do IILB foi 4,52, considerando todos as 1.188 fazendas participantes do IILB 11; 4,83, considerando os 353 rebanhos Holandês no IILB 11 e 7,43 para os 48 rebanhos Holandês que se destacaram como TOP 100. Considerando o porte, foram definidas três faixas em relação ao estoque médio de vacas em lactação, do menor para o maior: até 100 vacas em lactação; de 101 a 200 vacas em lactação e acima de 200 vacas em lactação. Em linhas gerais, houve predominância de rebanhos de maior porte (54,3%), seguido pelos de porte intermediário (32,6%) e menor porte (13,0%). O estoque médio foi de 308 vacas em lactação, totalizando mais de 14 mil vacas em produção, em todos os rebanhos, distribuídos em seis estados brasileiros: Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo (Gráfico 1).
Durante o período de 12 meses considerado pelo IILB 11 (jul/20 a jun/21), a produção média diária por vaca foi de 34,23 kg/dia e a produção média diária total dos rebanhos foi de 9,43 mil kg/dia, representando mais de 434 mil litros/dia, no somatório de todos os rebanhos (Tabela 1). Na mesma tabela, além dos 12 indicadores usados para calcular a nota única do IILB, estão outros cinco (destacados em negrito), para complementar a visão sobre os 46 rebanhos.
Além dos índices calculados com base nos dados do sistema de gestão Ideagri, os produtores e técnicos foram entrevistados e compartilharam mais características sobre as fazendas aqui compiladas.
INSTALAÇÕES E MANEJOS
Com relação às instalações para bezerras em aleitamento, 57% dos rebanhos usam combinação de sistemas, sendo que os mais citados são as gaiolas suspensas, presentes em 30 rebanhos. Já as casinhas e o sistema tropical empatam, sendo usados em 12 rebanhos cada (Tabela 2).
No que tange às instalações utilizadas para as vacas em lactação, o Compost Barn foi predominantemente presente em 65 % das propriedades, seguido do Freestall, usado em 28% (Tabela 3).
Com relação ao conforto térmico dos animais, 89% dos rebanhos utilizam métodos de resfriamento de vacas em lactação, sendo o mais comum na sala de espera, com 80,4% de prevalência, seguido da linha de cocho, com 56,5% (Tabela 4).
O método de observação de cios mais utilizado é o visual, isoladamente ou em combinações, em 69% dos rebanhos. A raspadinha e o bastão estão presentes em 34% dos rebanhos, isoladamente ou em combinações (Tabela 5).
Quando perguntados sobre o grau de importância da gestão de dados para o desempenho da fazenda, em uma escala de 0 (sem importância) a 10 (muito importante), 91% dos participantes responderam que a consideram muito importante e não houve entrevistado que atribuiu menos de 7 pontos a esse quesito. A nota média atribuída pelos 46 entrevistados foi de 9,85. Considerando o grau de satisfação com a atividade leiteira, também declarado em escala de 0 a 10, 93,5% dos participantes demostraram satisfação (notas 8, 9 e 10), sendo que 45,7% dos participantes escolheram a nota 10, demonstrando-se muito satisfeitos(as). Apenas um dos entrevistados se declarou pouco satisfeito (nota 4). A nota média foi 8,89.
Fica claro que a gestão das informações tem papel fundamental nas fazendas que têm desempenho acima da média e, ainda que a atividade leiteira sofra efeitos “da porteira para fora”, produtores mais eficientes, representados pelo universo aqui avaliado, têm alto grau de satisfação com a atividade leiteira.