Nesta edição, a coluna Ideagri analisa a relação de dois dos indicadores que compõem o Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB): a idade ao primeiro parto em meses (IPP) e a produção de leite na primeira lactação (Prod. leite total/corrigida 1ª lac.). Pesquisas recentes nos EUA mostram que primeiros partos, ocorridos entre 23 e 24 meses de idade, são correlacionados a uma maior produção de leite na primeira lactação e, por conseguinte, durante a vida da matriz. Evitar que os primeiros partos ocorram tardiamente também diminui o tempo de permanência improdutivo da fêmea na fazenda.
Com o intuito de conhecer os resultados com base em dados reais, usados para a gestão zootécnica de rebanhos brasileiros, foram usadas informações obtidas na quarta edição do IILB que avaliou 912 rebanhos. Para tornar a análise mais específica e analisar os dados de forma padronizada, dentro deste universo de fazendas, foram selecionados:
- Rebanhos com o perfil 1 do IILB , que têm mais de 93,5% de grau de sangue europeu, neste caso, predominantemente holandês.
- Rebanhos com Prod. leite total/corrigida 1ª lac acima de 5.000 kg.
- Rebanhos com IPP média de até 30 meses.
- Rebanhos com um mínimo de 24 primeiras lactações encerradas no período englobado pela quarta edição do IILB (outubro de 2018 a setembro de 2019) com duração entre 180 e 500 dias.
É necessário pontuar que o parâmetro “Prod. leite total/corrigida 1ª lac” considera a produção total de leite para matrizes com lactação encerrada com menos de 305 dias de duração ou a produção de leite corrigida para 305 dias, no caso de lactações com duração superior a 305 dias. As fórmulas utilizadas, para as duas situações, foram as da Associação Brasileira dos Criadores de Gado Holandês.
Outro ponto importante a ser considerado são os critérios de amostragem aplicados. Foram avaliadas 123 fazendas e 8.251 lactações. Lactações de matrizes cuja informação da data de nascimento estava cadastrada como estimada foram desconsideradas.
RESULTADOS COM BASE NA QUANTIDADE DE LACTAÇÕES INDIVIDUAIS
A análise dos dados das lactações individuais mostrou que novilhas com predominância de sangue europeu, parindo pela primeira vez com idade entre 23 a 26 meses, produzem mais leite na primeira lactação do que novilhas parindo a primeira vez mais velhas ou mais precocemente (Gráfico 1). A distribuição das lactações por faixa IPP pode ser observada no Gráfico 3, no qual verificamos que a faixa tardia, igual ou acima de 30 meses, foi a com maior percentual de observações em relação às demais (30%) (Gráfico 2).
Ainda em relação aos dados do gráfico 1, no caso de partos ocorridos com 23 meses ou menos, ocorreu uma menor produção (porém maior do que a de primeiros partos mais tardios acima de 26 meses). Nestes casos, pode-se entender que a inseminação precoce, sem ajustes de manejo adequados, compromete a primeira lactação (e pode, ainda, comprometer a produção vitalícia das matrizes).
Percebe-se que novilhas que parem mais tarde produzem menos. Esta produtividade menor pode ser reflexo de ocorrências que as levaram a ter um desenvolvimento mais demorado, as quais podem ter prejudicado suas capacidades digestiva e/ou respiratória, tais como tristeza, diarreia e pneumonia.
Além da análise com base nas lactações individuais, fizemos a interpretação com base nas médias das fazendas. Neste caso, por se tratar da média geral, as faixas de IPP se iniciam em ‘<=25 meses’.
COMPARATIVO DAS FAZENDAS
A análise dos dados das médias por fazenda mostrou que rebanhos com IPP médio de até 27 meses produzem mais leite na média da primeira lactação do que rebanhos com IPP médio igual ou maior a 28 meses (Gráfico 3). A distribuição das fazendas por faixa de IPP pode ser verificada no Gráfico 4, no qual observamos que 67% das fazendas estavam nas faixas de até 27 meses e 33% acima de 27 meses.
ANÁLISE DO IMPACTO DE PRIMEIROS PARTOS TARDIOS NA RENTABILIDADE DA FAZENDA
Na tabela 1, foi avaliada, com base nos dados médios das fazendas, a diferença na margem líquida por primeira lactação, em relação à primeira faixa (<=25 meses, de maior produtividade). Para as análises, foram utilizadas como referência a margem líquida de R$ 0,30 por litro de leite (número de margem aproximado, de uma fazenda eficiente).
Mesmo considerando apenas a diferença na produção de leite (sem levar em conta o maior custo da criação da fêmea), em função de primeiros partos mais tardios, fica claro o impacto na rentabilidade.
Na Tabela 2, para ter uma dimensão mais precisa, foram considerados o volume de lactações por fazenda, para que fosse possível avaliar o montante financeiro do efeito. Percebem-se que fazendas com média de IPP acima de 28 meses apresentam diferenças negativas na margem líquida gerada pelas primeiras lactações, quando comparadas à média de produção de 8.441 kg (IPP médio de até 25 meses). As diferenças nas faixas acima de 27 meses são superiores a 10%. No montante geral, as perdas podem ser de mais de R$ 22 mil reais ao ano, no caso da faixa de IIP de 29 meses, na qual a quantidade média de primeiras lactações encerradas no período foi de 70,8 lactações por fazenda.
Foram avaliados, também, quantas lactações seriam necessárias para pagar os custos de criação em diferentes idades ao primeiro parto (com base em dados cedidos pelo Rehagro Consultoria, referentes ao ano de 2019 – neste caso, relativos ao custo de criação das novilhas). Para esta análise, utilizamos os dados das 8.251 lactações individuais. Os dados indicam, como já esperado, que primeiros partos mais tardios estão relacionados uma um maior o custo da novilha ao parto (Tabela 3).
Considerando uma margem de R$0,30 por litro de leite multiplicada pela produção dos animais, na primeira lactação, com 24 meses de IPP, seriam necessárias, para o criador, 1,7 lactações para reembolsar os custos da criação até o primeiro parto. Já na faixa de 30 meses ou mais, seriam necessárias 1,9 lactações.
Em colunas anteriores, forma analisada, de forma mais detalhada, a taxa de sobrevivência de fêmeas até os 12 meses de idade (Edição #122 da Revista Leite Integral). Nesta ocasião, ficou clara a oportunidade de atuar nesta fase da vida dos animais para que mais fêmeas cheguem vivas até 1 ano de idade. Com os dados obtidos na análise atual, a partir da correlação da IPP com a produção de leite na primeira lactação, fica ainda mais evidente a importância desta etapa para que as bezerras:
- tenham o desenvolvimento corporal adequado;
- iniciem a vida reprodutiva mais precocemente;
- manifestem seu potencial, nas produções da primeira lactação, sem interferências de sequelas oriundas de problemas sanitários e de manejo.
Reduzir a idade ao primeiro parto, com o manejo adequado das bezerras, dilui os custos de criação, aumenta produtividade e rentabilidade, além de impactar no bem estar do animal!
Para conferir o boletim completo, acesse a plataforma www.iilb.com.br (disponível de forma gratuita para qualquer pessoa interessada nas análises).